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FAÇA “CHUVA” OU “SOL”, SETOR CRESCE
Em meio a mais um capítulo da
crise internacional, o autosserviço mantém sua trajetória ascendente (há oito
anos só cresce) e alcança R$ 224,3 bilhões. Mais uma vez, os supermercados
foram os grandes responsáveis pelos números positivos do setor. Com ou sem
crise, o autosserviço cresce. Foi assim em 2009, quando os reflexos da primeira
onda da crise internacional molharam nossa economia, e o setor ainda assim
cresceu de forma significativa (6,5%), apesar de o PIB ter patinado na ocasião,
com crescimento deflacionado inferior a 1%.
Agora, enfrentando a segunda onda da crise, os números da economia
nacional mais uma vez deixam um gosto de quero mais (nosso PIB deflacionado
cresceu apenas 2,7%), mas novamente o setor se mostra resistente ao choque e
avança 4,4%, mantendo a rota ascendente do faturamento do autosserviço e
alcançando R$ 224,3 bilhões de receita. Isso quer dizer que, pelo oitavo ano
seguido, o setor aumenta suas vendas.
É verdade que a participação do setor no PIB, apesar do crescimento, se
mantém tecnicamente estável, com ligeira perda, para ser preciso, já que era
5,48% em 2010 e passou a ser 5,41% do PIB em 2011. Esse dado parece conflitar
com o anterior, afinal como pode o setor ter crescido mais que o PIB sem
aumentar sua fatia?
“O deflator usado pelo IBGE é outro e contempla mais ramos de atividades
que o deflator das vendas do setor, o IPCA [Índice de Preço ao Consumidor
Amplo]. A diferença do impacto dos deflatores pode ser verificada pelo
crescimento nominal do PIB e das vendas do setor. O setor cresceu 11,3% e o
PIB, 12,7%”, informa o gerente do Departamento de Economia da Abras, Flávio
Tayra.
De qualquer maneira, a diferença dos deflatores é necessária e não
inviabiliza a validade do crescimento real, porque o valor do PIB envolve
universo muito mais amplo de atividades (construção civil, atacado,
exportações, indústrias em geral, etc.) do que o valor das vendas do setor.
Assim, o desempenho do autosserviço continua a ser excelente, até pelas
circunstâncias geopolíticas desfavoráveis.
Razões para justificar esse desempenho não faltam. Do ponto de vista
macroeconômico, não é novidade que o Brasil está mais sólido e resistente a
crises internacionais. A estabilidade monetária, conquistada há quase duas
décadas e preservada pelos últimos cinco governos, é uma das principais
contribuintes. Políticas sociais de inclusão de pessoas no mercado de consumo
também cumprem papel importantíssimo.
Mas a contrapartida do setor é inegável. As empresas de autosserviço não
se cansam de reinventar-se para oferecer ano a ano, mês a mês e dia a dia o
melhor serviço possível aos consumidores. Novos formatos surgem, velhos são
reciclados, tudo com vistas a se adequar ao mutante comportamento de consumo do
brasileiro.
Os números do estudo da Nielsen estão aí e não nos deixa mentir. O
autosserviço (que inclui também lojas com apenas um check-out) melhorou seus
indicadores: aumentou o número de lojas, de 81,1 mil para 82 mil unidades
(1,1%); de funcionário s, de 919,9 mil para 967,7 mil (5,2%); área de vendas,
19,7 mil m2 para 20,6 mil m2 (4,4%); e de check-outs, 199,3 mil para 206,6 mil
(3,6%).
ANÁLISES REGIONAIS - REDUÇÃO DE CONCENTRAÇÃO DE GANHOS
Análises que levam em conta os ganhos por localização de lojas apontam
mudanças na distribuição dos faturamentos. Que o setor
supermercadista brasileiro é pulverizado e que ainda tem potencial de expansão
e oportunidades em muitas áreas, principalmente pelo momento econômico do País,
com melhoria de renda da população, isso não se discute.
É nesta parte
das análises do Ranking que são mostrados onde estão alocados os faturamentos
das empresas supermercadistas, e aqui é possível verificar que estados estão se
destacando e onde há oportunidades para o segmento, de acordo com as 500
respondentes da pesquisa. São lançados nesta etapa os faturamentos locais de
cada loja. O fato é que o País, com suas dimensões, tem características muito
peculiares que se alteram de região para região e até de estado para estado.
Muitas mudanças ocorrem pelos investimentos das redes com crescimento orgânico,
abertura de lojas, e também pela influência de novas participantes no estudo.
A começar por
São Paulo, na distribuição do faturamento das 500 empresas, o estado continua
com a maior parcela do total informado, 35,4%, porém, teve redução de 0,7 ponto
percentual em relação ao ano anterior. Quem ganhou em participação foi o Estado
do Rio de Janeiro, 0,8 ponto percentual, subindo para 10,6%. Além de
importantes operações como Prezunic, Zona Sul, Intercontinental e diversas
outras, teve entrada de novas integrantes como a 49a colocada, ou seja, o
Mercado Torre de Jacarepaguá. Na sequência, Minas Gerais e Rio Grande do Sul
trocaram os postos. Muito por influência dos bons resultados de empresas como
Supermercados BH (11o coloca do), Multi Formato (20a do Ranking) só para citar
algumas, e pela grande participação de empresas espalhadas pelo estado, Minas
Gerais assumiu a terceira colocação, com 9% do total, com aumento de 1,9 ponto
percentual na participação.
Isto não quer
dizer que o Rio Grande do Sul tenha perdido mercado, as operações sulistas
tiveram resultados acima da média, principalmente as empresas classificadas
entre as 50 maiores, além de operações locais no interior do estado.
Tecnicamente, o estado ficou empatado com o Paraná com 6,9% de participação
cada um.
Os Estados da
Bahia, Santa Catarina, Pernambuco, Distrito Federal e Goiás permaneceram nas
mesmas colocações do Ranking anterior. Já Rio Grande do Norte e Mato Grosso do
Sul trocaram os postos, ficando como 13o e 14o colocados. Espírito Santo também
ganhou participação na distribuição do bolo. Maranhão, com a participação pela
primeira vez do Supermercado Maciel, subiu da 23a para a 21a colocação. Acre e
Tocantins também ampliaram seus percentuais. Por não terem informantes nesta
edição do Ranking, tanto Amazonas quanto Roraima não mostram sua
representatividade.
ATUAÇÃO REGIONAL
Na
distribuição por região geográfica, Sudeste segue na liderança, 55,8% dos
valores informados são obtidos nesta região, montante de R$ 89,9 bilhões. Em
número de lojas, os quatro estados juntos (São Paulo, Minas Gerais, Rio de
Janeiro e Espírito Santo) somam 2.973 unidades, segundo as 500 maiores redes
que informaram ao Ranking. Os desempenhos locais dos estados já mencionados
fizeram com que a região ampliasse a participação em 1,7 ponto percentual.
A
representatividade ampliada da Região Sudeste advém da redução da participação
da Região Sul no bolo, que em 2011 ficou em 16,9%, 2,4 pontos percentuais a
menos que o ano anterior. Os ganhos das declarantes dessa região foram de R$
27,3 bilhões. Já as operações do Norte/Nordeste mantiveram representatividade
de 19,7%. Por lá foram informados ganhos de R$ 31,7 bilhões, com 17,5% das
lojas do grupo declarante. E por fim, quem amplia representatividade é a Região
Centro- Oeste. Em 2011, respondeu por 7,6% das vendas das participantes do
Ranking, o que significa R$ 12,2 bilhões ante R$ 10,4 bilhões do ano anterior.
Com exceção do Prezunic, que agora faz parte da multinacional chilena
como já citado, é a partir da sétima colocada do Ranking que se observa o
quanto o setor é pulverizado e como as empresas regionais têm grande influência
em suas áreas de atuação. Elas crescem com abertura de lojas e várias delas
registram resultados muito acima da média do setor. No grupo da sexta à décima
colocada, destaca-se a paranaense Irmãos Mufatto, que também atua no interior paulista.
Ela inaugurou cinco lojas, subiu um posto e ampliou em 19,87% seus ganhos.
Na sequência do Ranking, aparece outra empresa sulista, a catarinense
Angeloni. Avançou para o oitavo posto, crescendo também na casa dos 19% e com
duas lojas a mais. Para reforçar a força da Região Sul, quem avança também é o
paranaense Condor, que assume a nona posição, com faturamento 23,5% acima do
registrado em 2010.
Por conta do alto desempenho das empresas sulistas, quem trocou de
classificação foi a mineira DMA, que da sétima posição foi para a décima.
Porém, em 2011, inaugurou duas unidades, chegando a 94 lojas. A empresa atua
também no Estado do Espírito Santo. Neste Ranking vale ressaltar que todas as
integrantes do grupo da sexta à décima colocadas faturaram acima de R$ 2
bilhões cada uma.
50 MAIORES DO RANKING
Com lojas espalhadas por todo o
País, as empresas que compõem o grupo das 50 maiores do Ranking são
responsáveis pelas principais negociações no segmento supermercadista. Com
faturamento declarado de R$ 155,8 bilhões, o grupo das 50 maiores empresas do Ranking
Abras, formado tanto por multinacionais quanto por referências regionais,
movimenta muito o setor. É nessa amostra principalmente que acontece a dança
das cadeiras (troca de posições entre potências do setor supermercadista), além
de negociações vultosas, reestruturações, introdução de novas operações, etc. E
isso, a começar pela primeira colocada, a Companhia Brasileira de Distribuição
(CBD), ou seja, o Grupo Pão de Açúcar.
Este ano, a empresa introduziu nas declarações de sua operação o total
da divisão Via Varejo, que opera as lojas especializadas de eletroeletrônicos e
de móveis, ou seja, Ponto Frio e Casas Bahia, e também declarou o total de sua
operação Pontocom, de comércio eletrônico. Isso fez com que a variação de
faturamento ficasse 45,75% acima do declarado no ano anterior e os índices de
eficiência em patamares similares. Vale lembrar que para as análises do setor
de autosserviço estes números não foram considerados para não alterar os dados
históricos.
Este ano também houve uma questão inédita, o Carrefour declarou apenas
os dados de faturamento. A empresa excluiu a operação das lojas de sortimento
limitado Dia%, que teve no meio do ano de 2011 suas operações separadas do
Grupo Carrefour. Segundo o relatório internacional do grupo, no País foram
fechadas oito lojas convencionais, seis hipermercados, e foi priorizada a
bandeira Atacadão, pois unidades de hipermercados foram convertidas e outras
unidades foram abertas, chegando a 10 lojas a mais do formato atacarejo. Mesmo
com mudanças e reestruturações houve acréscimo de cerca de 1% no faturamento,
lembrando que a operação Dia% foi excluída da declaração. Também para não
comprometer as análises, os dados do Carrefour foram estimados.
A terceira colocação se manteve nas mãos do Walmart Brasil, a empresa
teve crescimento orgânico. Em 2011 abriu 42 lojas e seu faturamento variou
5,08%. O melhor índice de eficiência do grupo foi verificado no faturamento por
funcionário, com 12,15% de aumento. Nos últimos dois anos um dos grandes
destaques do Ranking foi a operação da chilena Cencosud, que até então constava
no Ranking com razão social GBarbosa, nome de sua primeira aquisição no País.
Em novembro de 2010, a Cencosud adquiriu a mineira Bretas, à época com
faturamento superior a R$ 2 bilhões. Contudo, no Ranking passado, a operação
recém-adquirida teve apenas dois meses de faturamento informados nos números da
chilena. Este ano toda operação do Bretas está declarada. No entanto, em
novembro de 2011, a multinacional surpreendeu novamente com aquisições de peso
e comprou a carioca Prezunic, que neste estudo ainda tem suas operações
declaradas à parte, mantendo-se como sexta colocada do Ranking. No próximo ano
toda a sua operação será declarada juntamente nos números do Cencosud. Enfim,
após toda essa movimentação, o faturamento da quarta colocada em 2011 foi
78,14% maior do que no ano anterior. Em relação aos seus índices de eficiência,
o faturamento por metro quadrado foi o destaque, com 16,37% de aumento.
Dentre as cinco primeiras colocadas, a única genuinamente brasileira e
na quinta colocação é a Companhia Zaffari, que atua nos estados do Rio Grande
do Sul e São Paulo. Com as mesmas 29 lojas, ela teve resultados acima da média,
com destaque para todos os índices de eficiência, acima de 15% de aumento. No
faturamento, o grupo gaúcho cresceu 16,87% e chegou a R$ 2,91 bilhões.
HISTÓRIA MERCADOLÓGICA SUPERMERCADISTA MINEIRA
Minas Gerais sempre disputou com o Rio de Janeiro a condição de segunda
maior economia do Brasil. Essa condição só viria se consolidar na década de 90.
Quando do início dos supermercados no país, além de capital federal, o Rio de
Janeiro tinha uma economia provavelmente duas vezes maior que a de Minas, um
estado ainda voltado para as atividades extrativistas, minerais e o agronegócio
nos anos 50. Mesmo assim, a primeira loja supermercadista em Minas surgiria em
1958, cinco anos após a pioneira paulistana. A partir daí, uma grande história
de empreendedores seria construída, contribuindo decididamente para o sucesso
do supermercado no Brasil.
DÉCADA
DE 50 - SERV BEM, o pioneiro.
Este é o nome
do primeiro supermercado de Minas Gerais. Sua montagem teve início nos últimos
meses de 1957, e a inauguração em 9 de janeiro de 1958, na capital mineira
(Belo Horizonte). Três sócios foram responsáveis pelo empreendimento, saudado
pela imprensa e autoridades como um símbolo do grande progresso por que vivia a
capital e o "avanço da civilização": João Vasconcelos Porto, coronel
Afonso Moura Castro e Hamilton de Oliveira. A inauguração contou com a presença
de autoridades, como o prefeito da capital e o arcebispo. Os balcões
frigoríficos, destinados à conservação de carnes, laticínios, frutas, verduras
e legumes, são da marca SIAM, que fornecia para os principais supermercados do
Rio e São Paulo. Os caixas eram Sweda. A seção de enlatados também despertava a
atenção dos visitantes, com destaque para uma grande quantidade de produtos com
a marca Swift, assim como a seção de bebidas, com o Ron Montilla e a Vodka
Orloff.
Após quatro
dias de funcionamento, os donos do Serv Bem publicaram anúncio no principal
jornal da cidade: agradeceram a acolhida do público e relataram que 18.643
pessoas haviam passado por suas roletas (os supermercados em seu início tinham
roletas para controle de entrada e saída). O Serv Bem encerraria suas
atividades em 1969. A sociedade já não contava, desde 1967, com um dos
fundadores (Hamilton de Oliveira). A renovação do contrato de locação do ponto
da loja pioneira, situada na prestigiosa Avenida Cristóvão Colombo, não fora
bem-sucedida e os sócios preferiram fechar o negócio, sem dívidas. A filial
montada no bairro Nova Suíça, naquela época, distante do centro e da região de
maior poder aquisitivo da capital, havia fracassado, e foi vendida para a rede
Bandeirantes (também pioneira dos anos 50, e de grande sucesso nos anos 60 e
70).
No auge do
sucesso da loja pioneira (entre 59 e 62) surgiria a "turma do Serv
Bem", substituindo a "turma da Savassi". A história é
interessante: o supermercado estava instalado ao lado da Padaria Savassi,
fundada por um imigrante italiano e uma das mais famosas da cidade na época. O
bairro era o Funcionários, e os estabelecimentos estavam a cerca de quatro
quadras do Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro.
O bairro
Funcionários e bairros vizinhos abrigavam a classe média alta e a classe alta
da capital. Adolescentes e jovens de maior poder aquisitivo que freqüentavam o
"footing" da Savassi formavam grupos e, às vezes, gangues de rapazes,
no melhor estilo "James Dean", motorizados com suas "lambretas",
vestindo jaquetas de couro pretas e com topetes caprichados. A gangue era
conhecida como "Turma da Savassi", pois se reunia em frente à
padaria, estabelecida pelo menos 20 anos antes que o supermercado. Com o
advento do Serv Bem, e seu estilo americano de "self service", a
gangue caminhou alguns metros e passou a freqüentar a porta do estabelecimento.
Acabou sendo conhecida como a "Turma do Serv Bem".
MERCI, do Rio para Minas.
Localizada na
antiga Feira de Amostras (posteriormente demolida para a implantação, nos anos
70, da nova rodoviária de Belo Horizonte, a loja pertencia a uma pioneira rede
de mercearias do Rio de Janeiro, que estava se transformando em supermercado e
já partia para outras capitais). Os relatos apontam a abertura dessa loja em
1958, possivelmente alguns meses depois do Serv Bem. Outras lojas Merci foram
abertas nos anos 60 em Belo Horizonte. Na década de 70, o grupo Casas da Banha
comprou a rede no Rio de Janeiro e as lojas em BH passaram a ostentar a marca
CB Merci. Em meados da década de 80, o CB Merci entraria em insolvência.
BANDEIRANTES, as mercearias viram supermercado.
Nasceu da
rede Mercearias Bandeirantes a maior rede de supermercados dos anos 60, em
Minas. O modelo de distribuição varejista, conhecido como mercearia,
representava uma evolução das "vendas" e armazéns de secos e
molhados, que dominaram o comércio na capital mineira até os anos 40. Depois da
2a. Guerra Mundial, as mercearias ocupavam lojas de porte maior e introduziam
um mix maior de perecíveis. O pioneiro supermercadista Miguel Furtado, que
hoje, aos 75 anos, atua no setor agropecuário, conta que abriu a primeira loja
de auto-serviço no primeiro semestre de 1958, embora fosse muito bem sucedida,
sua rede de mercearias. Eram 200 metros quadrados na primeira loja
supermercadista-Bandeirante.
Em menos de
cinco anos sua organização já não maia trabalhava no sistema de mercearias e
passaria a liderar o ranking pioneiro supermercadista mineiro. Sua organização,
a Mercantil Bandeirante LTDA, se expandiu por toda a Grande BH e Vale do Aço
nas décadas de 60 e 70 e chegou a ter 1.600 funcionários. A fracassada segunda
loja do Serv Bem, por exemplo, foi comprada pela Bandeirante, em 1969, em plena
expansão dos negócios da rede. Uma oferta irrecusável da rede Pão-de-Açúcar
para a compra do Supermercado Bandeirante, em 1983, segundo Furtado, fez com
que mudasse de ramo. Em 1971, Miguel Furtado seria um dos fundadores da
Associação Mineira de Supermercados (Amis), e seu primeiro presidente.
Não há
notícia de supermercados em outras cidades mineiras antes de 1960, ou seja,
tudo indica que a capital que se modernizava, embora com certo atraso em
relação a São Paulo e Rio de Janeiro, era a locomotiva das mudanças de hábitos
de comportamento social e econômico na tradicionalista Minas Gerais.
DÉCADA DE 60 - Tradicionalismo resistente, mas
vencido aos poucos.
Os
entrevistados relatam que, ao contrário de São Paulo, Rio de Janeiro e muitas
capitais nordestinas, o tradicionalismo de clientes e empresários em Minas, fez
com que o abastecimento na década de 60 ainda ficasse sob responsabilidade
quase total de mercearias, varejões, quitandas, padarias e açougues. Somente na
segunda metade dos anos 70, pode-se dizer que o supermercado passou a ser
hegemônico em BH. Mesmo assim, a década de 60 marcaria a chegada do novo modelo
a Minas. Um dos entrevistados apontou a inauguração de Brasília como um marco
desses novos tempos: o Brasil começou a ter estradas para que seu interior
pudesse entrar de vez na vida nacional, a televisão chegava aos lares, o
automóvel se popularizava e o supermercado se apresentava como o novo modelo de
distribuição varejista. Aos recém-nascidos do final da década de 50 – SERV BEM,
MERCI e BANDEIRANTES - se somarão novos players em BH e no interior, na década
de 60.
CAMPONESA, de olho no consumidor A/B.
Empresários
com negócios nas áreas de finanças e agropecuárias tornaram-se sócios e criaram
os supermercados Camponesa na primeira metade da década de 60. As lojas tinham
área maior que as da concorrência e a decoração inovava pela sofisticação. De
imediato conquistaram o gosto dos consumidores de maior poder aquisitivo. A
Camponesa foi vendida no início dos anos 70 para a CB Merci.
EPA SUPERMERCADOS, começa a saga dos Nogueiras.
Os irmãos
Nogueira, que nos anos 50 já atuavam no negócio de mercearias, fizeram a
primeira experiência com o auto-serviço em 1963. Tratava-se de uma loja no
bairro Esplanada, de população de renda C, periferia da cidade naquela época. A
experiência não deu certo. Aliás, uma característica da primeira metade da
década de 60 é que os supermercados, além de poucos, estavam concentrados na
área central ou nos bairros mais abastados e extremamente próximos da área
central da capital mineira. Os irmãos Nogueira fecharam a loja experimental e
retomaram o investimento na expansão de suas mercearias. Só voltaram ao
auto-serviço com nova tentativa em 1967, na área central da cidade. Desta vez,
o sucesso foi conquistado. Em 1973, os Nogueira decidiram que nenhuma outra
loja no formato de mercearia seria implantada.
No ritmo da
"explosão" do supermercado no País, a família Nogueira é uma das
responsáveis pelo fenômeno em Minas. Lideraram o processo nos anos 70 e se
tornaram a maior rede da capital e de todo o Estado. Em 1971, lideraram a
criação da Associação Mineira de Supermercados (Amis). Levy Nogueira foi
presidente da entidade em gestões no final dos anos 70 e durante a década de
80. Levy foi presidente da Abras no início dos anos 90 e do ALAS em meados da
década final de segundo milênio. Gil Nogueira e José Nogueira foram presidentes
da Amis em vários mandatos nos anos 90. A liderança do mercado na capital só
seria abalada a partir do final dos anos 80. O Epa ocupa hoje a quarta posição
no ranking estadual e é a mais antiga empresa supermercadista de Minas Gerais.
PAG-POUCO, laboratório de um vanguardista.
Em 1967, os
irmãos William e Paulo Ribeiro Nunes transformaram a mercearia na região
central da capital na primeira loja de auto-serviço daquele que seria um grande
grupo anos mais tarde. Em 1970, Paulo Ribeiro comprou a parte da sociedade do
irmão. Em 1979 já possuía 8 lojas Pag-Pouco e, em um evento em São Paulo, tomou
conhecimento da loja de sortimento reduzido, que já existia em Santa Catarina,
instalada pela Companhia Riachuelo. Em um mês, começou a abrir as lojas Kit
Alimentos a Baixo Custo. Elas não tinham refrigeração e, por isso, não era
necessário grande investimento para abri-las.
Em 1982, já
seriam 25 lojas no grupo, sendo 12 lojas Pag-Pouco com 1,2 mil metros quadrados
e 13 lojas Kit (300 e 400 metros quadrados). Paulo Ribeiro, em 1982 entraria
também no ramo atacadista, abrindo o Apoio, que representava o auto-serviço
para pequenos varejistas. Em 1987, passou a transformar algumas lojas Kit em
pontos-de-venda de eletroeletrônicos, lançando a rede Kit Eletro. Neste
período, resolveu sair do ramo de supermercados e vendeu as lojas Pag-Pouco
para a rede que mais se expandia na época, o Mineirão.
Em 1991,
foram vendidos todos os pontos remanescentes do Kit para o Mineirão. Passou a
investir no autoatacado, abrindo uma loja Apoio na grande São Paulo e no Kit
Eletro. Teria 35 lojas Kit Eletro. No início dos anos 90, vendeu a rede Kit
Eletro para o Ponto Frio e, em meados da década de 90, os dois Apoio para o
Martins Atacadista. Atualmente está no ramo de logística.
CANGURU, um salto para Juiz de Fora.
Juiz de Fora
era uma das cidades que mais cresciam economicamente no final do século 19 e
nas primeiras décadas do século 20 no Brasil, embalada pela indústria têxtil e
pela proximidade com a então capital federal, a cidade do Rio de Janeiro. Mas
nos anos 50, a cidade iniciaria um ciclo de estagnação ou mesmo decadência que
só seria revertido nos 90. Talvez, por isso, embora com uma vida cultural ativa
e padrões de comportamento similares aos do Rio de Janeiro, Juiz de Fora não
tenha respondido pelo título de abrigar o primeiro supermercado de Minas
Gerais, láurea que ficou para Belo Horizonte. O primeiro supermercado de Juiz
de Fora surgiu cinco anos depois do pioneiro Serv Bem, da capital.
Com o nome de
Supermercado Canguru, e cujo slogam era "a economia para a sua
bolsa", óbvia alusão ao marsupial australiano, nascia, em 1963, o primeiro
supermercado de Juiz de Fora, também um dos pioneiros do interior de Minas. Os
proprietários eram os irmãos Geraldo Mendes, Gudesteu Mendes e Sérgio Vieira
Mendes. A idéia de transformar a então mercearia na cidade em supermercado veio
com as constantes viagens ao Rio de Janeiro, quando conheceram o novo modelo de
comércio implantado na capital carioca pelas Casas da Banha. Mas o Canguru só
ficou sob o controle da família Mendes por cerca de um ano.
Os Mendes
venderam o supermercado para, com o dinheiro, montar a primeira emissora de
televisão da cidade: a TV Industrial de Juiz de Fora. Quem comprou o Canguru
foi a rede Merci, do Rio de Janeiro, que se expandia em Minas e chegaria a ter
duas dezenas de lojas no Estado. Em 1965, surgiu um concorrente local, o
Supermercado Panelão, que na década seguinte iria fazer o percurso inverso ao
da Merci: se transferiria para o Rio de Janeiro.
NO BERÇO DO ZEBU, outro pioneiro.
Rota de
passagem obrigatória entre o maior centro industrial do país (São Paulo) e a
nova capital federal (Brasília), o Triângulo Mineiro passou por um revolução
econômica nos anos 60 e 70. A maior cidade da região na época, já famosa pela
excelência de sua pecuária, seria o palco para o surgimento do primeiro
supermercado da região, que acompanhava o ritmo de outras regiões do interior
de Minas. A era das mercearias, armazéns e varejões estava com seus dias
contados.
O desafio de
romper, em 1966, o tradicionalismo da cidade ainda dominada por fazendeiros
ficou a cargo do comerciante Jamil Abrahão cujo pai, Camilo Abrão, possuía um
empório na região, desde a primeira metade do século passado. Observação: o
sobrenome de Jamil é diferente do sobrenome do pai, por erro do cartório de
registro.
O
Supermercado Uberaba funcionou na Praça Rui Barbosa que, nos idos anos 60,
ainda não fazia parte do centro da cidade. O filho de Jamil Abrahão, Anderson
Abrahão, que também é comerciante e possui uma padaria em sociedade com outros
dois irmãos, conta que a trajetória do pai sempre foi ligada ao comércio. Filho
de comerciante, Jamil Abrahão trabalhou em empórios antes de abrir o próprio
negócio: uma mercearia. Com o passar do tempo, o estabelecimento foi crescendo
e ele decidiu transformá-lo em um supermercado.
"Muita
gente estranhou, vários clientes ficaram constrangidos, as pessoas falavam que
era loucura, que não iria dar certo. Eles estavam acostumados com os armazéns,
a ser servidos nos balcões, a comprar a granel e não aceitaram, assim, logo nos
primeiros dias, aquele negócio chamado supermercado", conta Anderson
Abrahão. Mas o Supermercado Uberaba se firmou e abriu as portas para outros, e
foram surgindo os supermercados Armazém Central, Casa Carvalho,
BARROS&BORGES, Supermercado Trindade e Supermercado Modelo, no final dos
anos 60 e início dos 70.
Com o tempo,
a mudança se consolidou e o Supermercado Uberaba abriu mais duas lojas: O
Supermercado Uberabão e o Supermercado Alfa. Anos mais tarde, já em fins da
década de 90, o Supermercado Uberaba fechou as portas, e o Uberabão foi
comprado pela rede supermercadista mineira Bretas, que atualmente possui duas
lojas na cidade, e é a número um do ranking da Abras em Minas.
DÉCADA DE 70
É a explosão
do auto-serviço no País. O "Milagre brasileiro", nos primeiros anos
da década, moderniza de vez o País, com obras de infra-estrutura em todo o
território, a política de substituição de importações, a expansão da indústria
nacional, a expansão das grandes metrópoles (a Região Metropolitana de Belo
Horizonte, por exemplo, saltou de 600 mil habitantes, em 1969, para 1,5 milhão
em 1975) etc. O supermercado é a cara desse novo Brasil.
Na capital,
Serv-Bem e Camponesa não existem mais. Agora os líderes são Epa, Pag-Pouco, CB
Merci, Mandabrasa. Centenas e centenas de lojas de auto-serviço são abertas no
interior e na região metropolitana da Capital. Os varejões, mercearias e
armazéns dão os últimos suspiros. Seus pontos são assumidos pelo auto-serviço.
Os imóveis utilizados pelos antigos cinemas, em decadência por causa da expansão
da TV nos lares, passam a abrigar lojas supermercadistas. A capital será, mais
uma vez, a locomotiva para o surgimento de um novo segmento supermercadista, o
dos hipermercados.
Em 5 de
dezembro de 1973, com 8 mil metros de área de venda, é inaugurado o primeiro
hipermercado de Minas Gerais. Trata-se do Jumbo, de propriedade do grupo
paulista Pão-de-Açúcar. A construção consumira apenas 135 dias, e o imóvel
ocupava o terreno que até então abrigava o estádio do América Futebol Clube, na
região central da capital mineira. Os hipermercados só chegariam ao interior na
década seguinte.
Em Juiz de
Fora, as grandes redes do Rio de Janeiro se expandiram na cidade. Surgiram os
Supermercados Disco, uma das maiores redes cariocas na época. Uma rede local
tentou nascer também: o Supermercado Enza, mas foi vendida nos anos 80 para a
rede Paes Mendonça, que posteriormente teve suas lojas em Juiz de Fora
adquiridas pelo Bretas. O Panelão que nascera nos anos 60 transferiu-se para o
Rio de Janeiro, para montar o Supermercado Free Wa. A rede Merci, agora CB
Merci, se expandiu na cidade com a compra do Panelão.
SUPERMERCADO NA CAPITAL DO ATACADO
A
progressista Uberlândia que se tornar a principal praça atacadista do
Centro-Oeste brasileiro e crescia com o recebimento de migrantes de todo o
país, se modernizou finalmente. Embora com cinco anos de atraso em relação à
vizinha Uberaba, quando, em 1971, inaugurou-se a primeira loja supermercadista
em Uberlândia, o evento ganhou grande repercussão e adesão imediata da população.
A estranheza dos uberabenses em 1966 não se repetiu em Uberlândia. A
inauguração foi um acontecimento social com a presença de autoridades políticas
e religiosas, que atraiu centenas de curiosos, como ocorrera em Belo Horizonte,
em janeiro de 1958...
O pioneiro
supermercado de Uberlândia, Alô Brasil, foi montado pelo empresário paulista
José Alves, que na época possuía o atacado Casas Alô Brasil Importadora e
Exportadora Ltda. Para descerrar a placa de fundação, José Alves e o
diretor-comercial, Joaquim Vital Ribeiro, convidaram autoridades políticas da
cidade e fizeram questão de que o empreendimento recebesse as bênçãos do bispo
Dom Almir. A loja era moderna para a época. O letreiro era em néon, toda a
fachada em vidro e havia longas prateleiras ao longo de um espaço amplo,
localizado na avenida Afonso Pena, a principal via comercial da cidade.
"No dia da abertura, uma multidão se aglomerava do lado de dentro e de
fora, e foi um verdadeiro formigueiro humano", comenta a viúva de Joaquim
Vital, Vera Vital Ribeiro.
Ao contrário
de Uberaba, onde o primeiro supermercado nasceu espontaneamente, a partir do
dinamismo do varejo, em Uberlândia o supermercado nasceria como um
prolongamento da atividade atacadista. Na década de 70, a cidade possuía um
comércio atacadista em efervescência, devido às oportunidades de negócios que
surgiram com a necessidade de fornecimento para Brasília e para novas cidades
que despontavam no Brasil Central. A efervescência da década de 70 só cessaria
nos dois últimos anos, como um prenúncio da década que se seguiria, a chamada
"Década Perdida".
DÉCADA DE 80
No início dos
anos 80, a inflação já fazia parte da vida do brasileiro e iria se agravar
ainda mais. A grave recessão dos primeiros anos da década, e as tentativas
frustradas de controle do surto inflacionário, ao longo de dez anos provocaram
grandes mudanças no perfil e no panorama do setor em Minas, especialmente na
capital. Novas redes de supermercados surgiram ocupando espaços deixados no
mercado por antigas redes que fecharam suas portas ou foram vendidas para os
novatos. Ao mesmo tempo, expandiu-se o fenômeno do hipermercado, modelo de loja
favorecido pela necessidade de o consumidor comprar grandes quantidades e
variedades no mesmo dia em que recebe sua remuneração, na tentativa de
preservar o dinheiro da desvalorização galopante.
CHEGA O PRIMEIRO ESTRANGEIRO
A capital
terminara a década de 80 com os seguintes hipermercados em funcionamento: Paes
Mendonça (1, âncora de shopping center), Carrefour (2, um delas âncora de
shopping), Pão-de-Açúcar (1), Bom Marche (1, âncora de shopping), Via Brasil
(1). A chegada de um hipermercado de origem estrangeira à Região Metropolitana
de Belo Horizonte causou rebuliço entre os outros players. Já acostumados com o
Pão-de-Açúcar, temiam agora uma "Revolução Francesa".
A primeira
loja Carrefour em Minas foi inaugurada no dia 10 de setembro de 1980,
localizada em Contagem, a 17 quilômetros da área central de Belo Horizonte. Em
31 de julho de 1985, o Carrefour abriria seu segundo hiper em Minas, agora como
âncora do primeiro shopping center de Belo Horizonte, o BH Shopping. Aliás, a
década de 80 e parte da de 90 são marcadas pela expansão dos shopping centers
na capital mineira. Mas nem só de hipermercados na capital, a década de 80 foi
marcada. Novas redes de supermercados de grande importância surgiram. Por
exemplo, a rede Mineirão nasceu em 1985 com pequenas lojas no centro da cidade.
Em 1988, já comprando os melhores pontos da falida CB Merci, todas as lojas do
Pag-Pouco e as melhores do Kit. O Epa esteve estagnado até meados dos anos 90,
quando abriu sua divisão MartPlus.
A FORÇA DO INTERIOR
Em Juiz de
Fora, as redes vindas do Rio de Janeiro dominaram o comércio, embora
empreendedores locais teimassem em também entrar no negócio. Em 1980, a Casa
Carioca, dos irmãos Caruso, que começou a funcionar em 1954 como uma pequena
mercearia, passou a supermercado. A maior grande rede genuinamente juiz-forana
surgiu em 1983, quando foi inaugurada a primeira loja de auto-serviço do
Bahamas, que se originou de um bar e passou a vender produtos de mercearia para
se tornar uma das maiores da cidade nas décadas seguintes. No ano de 1987, o
Bahamas conseguiria abrir sua primeira loja na avenida mais importante de Juiz
de Fora. A partir daquela unidade, a rede ficou mais conhecida e decolaria de
vez.
Mas seria em
Santa Maria de Itabira, 20 mil habitantes, a 350 quilômetros de Belo Horizonte,
que, em 1986, surgiria o fenômeno Bretas. A segunda geração de uma família de
comerciantes entraria para a história do supermercado brasileiro. Tudo começara
em 1954, quando foi inaugurado em Santa Maria de Itabira, o armazém que
originaria a rede Bretas. O comércio surgiu da sociedade dos irmãos Nilo e Zade
Bretas. Nilo Bretas comprava café nas redondezas e levava para o Rio de
Janeiro. Sempre que ia à capital federal, alguém encomendava alguma coisa. Foi
quando veio a idéia de montar um ponto para atender a essas pessoas. Criou-se o
armazém, em que se vendia de tudo: rapadura, querosene, ferradura, carne...
Um caso que
ficou na memória de todos, típico dos tempos "em que ainda se amarrava
cachorro com lingüiça" no interior de Minas, em plena década de 60: quando
surgiu o bombril, passou um vendedor oferecendo a novidade, dizendo que vendia
muito e apresentou um fardo com seis pacotes. O comerciante, empolgado, fez um
pedido de cem fardos. A indústria cumpriu o pedido e mais - com fardos de 14
pacotes. Resultado! Os irmãos Bretas passaram cinco anos sem precisar comprar o
produto. O empreendimento permaneceu como o único da sociedade até 1986, um
tradicional armazém/mercearia, com balcão e vendedores.
Muitos filhos
dos dois sócios foram incentivados a estudar em cidades maiores e na capital.
Em 1986, aconteceu a passagem das gerações. Liderados por um dos sucessores que
havia estudado engenharia civil na capital (Estevão Duarte de Assis), a nova
geração resolveu manter a tradição de comerciantes da família, porém agora a
opção era pelo sistema de supermercados. Tomaram coragem e compraram em 1987 a
loja do Pão-de-Açúcar em Timóteo, cidade que abriga a siderúrgica Acesita. Era
um negócio de alto risco para uma empresa então muito pequena e desconhecida.
Em 1990, a marca já estaria consolidada como rede supermercadista e avançaria
um pouco mais, com a abertura dos hipermercados em Juiz de Fora e Montes
Claros. Hoje, em primeiro lugar no ranking mineiro, os Bretas olham para o
passado e lembram com emoção o desafio.
São 34 lojas
empregando 4,5 mil pessoas em cidades mineiras como Juiz de Fora, Montes
Claros, Uberlândia, Uberaba, Ipatinga, Coronel Fabriciano, Timóteo, Sete
Lagoas, Pedro Leopoldo, João Monlevade e Patos de Minas. Além da conquista do
mercado fora do estado, com uma loja em Aparecida de Goiânia e a única loja em
capital, uma unidade em Goiânia (hipermercado âncora de shopping center). Os
anos 80 marcaram a consolidação do auto-serviço em todas as regiões de Minas.
Em Varginha, Pouso Alegre, Montes Claros, Governador Valadares, Teófilo Otoni e
outras importantes cidades de Minas, as histórias e casos de Juiz de Fora , Uberaba
e Uberlândia se repetem.
DÉCADA DE 90
O controle da
inflação e a entrada efetiva do País no processo de globalização trouxeram
grandes novidades para o setor em Minas. Até meados da década, mesmo com a
instabilidade provocada pelo governo Collor, os supermercados estiveram em
expansão, assim como os hipers. Com o Plano Real, e por assim dizer
"milagre do Real", que se seguiu até meados de 97, a expansão ainda
foi maior, em especial entre os supermercados.
Na capital, o
Via Brasil (hiper) abriu sua segunda loja em 1995. O Carrrefour abriu seu terceiro
hiper em abril de 1998. Em 1999, o Wal Mart abriu seu hiper em Contagem. A
consolidação do controle sobre a inflação e a volta da recessão em 1998 e 1999
mudaram os hábitos de consumo e reduziram o fluxo de consumidores nos
hipermercados, mas ampliaram em muito a procura por lojas de vizinhança.
O Mineirão
continuou sua expansão, enquanto o Epa se reorganizou e diversificou (lança a
divisão Mart Plus, para consumidores de maior poder aquisitivo). O Carrefour
decidiu entrar no ramo de vizinhança e saiu à compra de grandes redes em todo o
País. Em Minas comprou o Mineirão. Os ex-donos do Mineirão se associaram ao EPA
e passam a investir também na expansão da rede de lojas de vizinhança da mais
antiga empresa supermercadista em atuação em Minas Gerais. O mesmo fenômeno -
expansão das lojas de vizinhança - está sendo observado no interior de Minas.
REVOLUÇÃO NO TRIÂNGULO MINEIRO
Em
Uberlândia, por exemplo, os atacadistas revolucionaram mais uma vez o varejo da
região. A década de 90 trouxe três grandes mudanças para os supermercados de
Uberlândia, dentre as quais uma de relevância extrarregional. A primeira foi a
chegada à cidade do hipermercado Carrefour, no ano de 1990. Uberlândia foi,
durante muitos anos, a única cidade do interior mineiro a possuir um
hipermercado. A segunda loja do grupo francês seria aberta no interior mineiro
oito anos mais tarde, em Juiz de Fora.
Depois, na
segunda metade da década de 90, teve início o movimento de chegada de
investidores vindos de outras cidades e países em um processo iniciado pelo
Supermercado Bretas, em 1998. O Bretas adotou a mesma estratégia para entrar em
Uberlândia e em Uberaba (1996). Em ambas cidades ele comprou o supermercado
mais antigo. Em Uberlândia, o Bretas adquiriu as duas lojas do Alô Brasil, localizadas
no Centro.
Já em 2001,
foi a vez da chegada do Sé Supermercado. Foi Uberlândia a primeira cidade fora
de São Paulo que o grupo português Jerónimo Martins decidiu abrir um
estabelecimento. Nesse negócio o investidor se aliou ao atacadista Martins.
A terceira
mudança ocorrida em Uberlândia está relacionada ao conceito do supermercado de
vizinhança. Dois grandes atacadistas conciliam suas atividades agora com o
varejo. O Martins (2.500 caminhões de frota própria) e Peixoto (540 caminhões
de frota própria) lançaram suas bandeiras de supermercados de vizinhança no ano
2000. O Martins lançou a Rede Smart, hoje com 226 lojas em Minas, e o Peixoto
criou a Rede Valor.
Para
alavancar sua expansão varejista, o Martins montou um banco, o Tribanco, que
tem como uma das prioridades financiar a montagem por parceiros de
supermercados de vizinhança e garantir a expansão da Rede Smart. O segundo
braço da Rede Smart é a Universidade Martins do Varejo, que presta cursos de
gestão e capacitação profissional a supermercadistas de várias cidades do país.
O Econômico é
um dos supermercados de Uberlândia que funcionam sob a bandeira Smart, e o
Supermercado Daniela é exemplo de estabelecimentos com bandeira Valor.
MARCAS
Com relação
às marcas que remontam aos 50 e 60, os entrevistados lembram-se dos produtos
Nestlé (Leite Moça é o mais lembrado), da Coca-Cola, da Gessy, da Maizena, do
Sapólio Radium, cera Parquetina, Massas Orion, gordura de coco Coqueiro,
Bombril, produtos Peixe e Cica, produtos Cardoso (depois Aymoré), os laticínios
da Itambé.
FATOS CURIOSOS
A
resistência aos supermercados, principalmente nos bairros, pode ter como uma de
suas razões um costume presente em muitos lares. Nos anos 50 e 60, a
dona-de-casa ainda era uma instituição clássica em todas as camadas sociais.
Principalmente na classe média, o sistema de anotações em caderneta nas
mercearias e armazéns permitia que a dona-de-casa fizesse "vales".
Como a maioria dos maridos não conferia as contas item por item acabava
pagando, sem saber, os "vales". Até hoje formas de abastecimento
alternativas ao auto-serviço estão presentes em Minas. O número de padarias e
açougues em BH é relativamente maior que o de outras capitais.
No
interior, em Montes Claros, nos anos 70, um iniciante no ramo de supermercado
impressionou-se com a argumentação de vendas do representante da Sadia (que
acabou despedido). O representante dizia que a concorrência não havia
encomendado perus para o Natal.
O
iniciante viu na situação uma oportunidade e fez um grande pedido. No período
natalino, verificou que a concorrência tinha o produto em abundância, e que seu
estoque era o maior da cidade. O encalhe teve início. Partiu para a promoção:
vendeu peru em seis prestações, sem juros!
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