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“Gestão e Negócios Sustentáveis”, de autoria de Superdotado Álaze Gabriel.
Disponível
em http://www.gestaoenegociossustentaveis.blogspot.com.br/
Autoria:
1 -
Osvaldo Luiz Gonçalves Quelhas (UFF).
2 -
Sergio Luiz Braga França (UFF).
3 -
Rafael Travincas (UFF).
RESUMO
Este artigo tem como objetivo geral propor
diretrizes de ensino com foco em sustentabilidade, visando formar engenheiros
com conhecimento diferenciado para atender as novas oportunidades oferecidas
pelo atual mercado de trabalho. A pesquisa é desenvolvida com base na revisão
de literatura sobre sustentabilidade e ensino de engenharia e tem como objetivo
organizar textos e práticas no ensino do tema sustentabilidade para a formação
contemporânea de engenheiros. Diante das muitas abordagens educacionais, que
estão sendo testadas por todo o mundo, e no contexto da Década da Educação para
o Desenvolvimento Sustentável (2005 a 2014) das Nações Unidas, o ensino de
sustentabilidade em nível superior surge como perspectiva para enfrentar os
desafios atuais e construir um mundo mais sustentável. Por fim, conclui - se
que o ensino da sustentabilidade na graduação em engenharia busca promover o
bem -estar dos diversos públicos impactados pela atuação do Engenheiro.
INTRODUÇÃO
Desde a realização da Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – Eco Rio 92, um novo conceito surgiu e
está em evolução: a Educação para o Desenvolvimento Sustentável – ESD. Ela somente
será factível se não for restrita e ainda for conduzida de forma inter-transdisciplinar
em todos os programas e instituições de ensino.
Esta nova perspectiva da educação deverá promover o
entendimento do significado da sustentabilidade, como uma forma de intervenção
no mundo, conforme acentuado por Freire (1996). Neste contexto, a universidade
se torna essencial se nós quisermos alcançar um futuro sustentável (CORTESE,
2003), desempenhando a função de agente de mudança (STEPHEN et al, 2008),
essencial na formação e preparação dos futuros profissionais e conseqüentemente
na organização que estes se inserirem.
De acordo com alguns autores, um número crescente
de universidades tem se enganjado em incorporar e institucionalizar o
desenvolvimento sustentável – DS em currículos e pesquisas (CORTESE, 2003;
LOZANO, 2006). Contudo há muito a ser feito, pois conforme ponderam Bourn e
Sharma (2008), embora o paradigma da sustentabilidade tenha sido reconhecido
como elemento chave no currículo universitário, há necessidade de um maior
engajamento das universidades com o entendimento da sustentabilidade e questões
globais.
Dado a heterogeneidade dos desafios da
sustentabilidade decorrentes de mudanças: ambiental, social e tecnológica (STEPHEN
et al, 2008), a engenharia desponta como
uma das principais disciplinas de transformação para uma sociedade sustentável (BROMAN
et al 2002).
Respondendo a esta necessidade, instituições
brasileiras têm incorporado estes à suas agendas, sendo que a World Engineers
Convention’s – WEC (2008) por meio da Declaração de Brasília enfatiza a
importância da engenharia como a profissão condutora da inovação tecnológica e
de vital importância no desenvolvimento social, econômico e humano sustentável.
O SENAI - IEL (2006), em seu relatório Inova
Engenharia menciona a necessidade de formação de profissionais não somente
técnicos e altamente especializados, mas que possuam também numa
formação humanística ampla capaz de lidar com os impactos sociais e ambientais
decorrentes de suas decisões.
Os profissionais de engenharia devem ser capazes de
tomar as melhores decisões durante a elaboração e a implementação de projetos,
tornando se assim vital na condução dos vários aspectos das questões sócio - econômicos
e ambientais (CRUICKSHANK, 2004).
Assim um novo rumo da engenharia, que já está sendo
testado, que demanda soluções para os problemas atuais, a fim de que as futuras
gerações possam ter pelo menos as mesmas oportunidades que as gerações atuais
têm experimentado, tem sido chamado de engenharia sustentável (CAREW; MITCHELL,
2001; A BRAHAM, 2005; CAREW; MIT CHELL, 2008), engenharia da sustentabilidade
(BOYLE, 2004) ou engenharia para o desenvolvimento sustentável (RAENG, 2005),
embora a sustentabilidade e a aplicação dela na prática profissional não sejam
facilmente evidenciadas (BOYLE; COATES, 2005). Esta pesquisa busca responder à seguinte
questão:
Como incorporar o conceito de sustentabilidade na
formação do profissional de engenharia visando a consciência ambiental, social
e o atual mercado de trabalho? Para responder esta questão, busca - se atender
o seguinte objetivo geral: Propor diretrizes de ensino com foco em
sustentabilidade, visando formar engenheiros com conhecimento diferenciado para
atender as novas oportunidades oferecidas pelo atual mercado de trabalho.
Objetivando identificar, conhecer e acompanhar a
evolução na área de conhecimento da pesquisa, conforme Miguel (2007), esse
artigo se baseia na revisão de literatura sobre sustentabilidade, ensino de
engenharia e em um estudo de caso.
CONTEXTUALIZANDO A EDUCAÇÃO E
SUSTENTABILIDADE
Em 1987, foi publicado pela Comissão Mundial sobre
o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (CMMAD) da ONU um estudo denominado Nosso
Futuro Comum, mais conhecido como Relatório Brundtland. Neste relatório foi
apresentado o conceito de Desenvolvimento Sustentável que é mais utilizado:
desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprometer a
possibilidade de as gerações futuras atenderem suas próprias necessidades
Desde a apresentação do Relatório de Brundtland, outras
definições de Desenvolvimento Sustentável têm sido encontradas na literatura,
entre elas: Clift e Morris (2002) definem como um processo de mudança em que o
investimento, o desenvolvimento tecnológico e mudança institucional sejam
assegurados e que satisfaça as necessidades do presente sem comprometer as das
futuras gerações.
Para Almeida (2002), os desequilíbrios
sócioambientais são resultados do velho paradigma cartesiano e mecanicista, com
sua visão fragmentada do mundo – o universo visto como um conjunto de partes
isoladas, funcionando como um mecanismo de relógio, exato e previsível. O velho
paradigma não da conta de entender e lidar com as complexidades e sutileza
dessas transformações. Já o novo, cujo eixo é a idéia de integração e
interação, propõe uma nova maneira de olhar e transformar o mundo”.
Embora muitas controvérsias tem havido na
interpretação do que vem a ser desenvolvimento sustentável e sustentabilidade,
é de grande consenso que esses conceitos ainda estão em evolução. A sustentabilidade
pode ser considerada como o objetivo e o desenvolvimento sustentável como o
processo para se alcançá-lo (DIESENDORF, 2000; CLIFT, 2000 apud SIKDAR, 2003),
sendo que a distinção entre essas duas expressões tende a ser irrelevante, pois
elas são a única opção razoável que temos para se buscar a longo prazo (RASKIN
et al., 1998).
Todo o processo de construção da sustentabilidade
deve ser de aprendizagem (MEPPEM; GILL,
1998), transformativo (WALS; CORCORAN, 2006; BERGEA et al, 2008), adaptativo e
de mudanças controladas em um sistema complexo, integrado e multidimensionado,
que não alcançará uma situação ou um ponto final, mas sim um estado em contínua
transição (MEPPEM; GILL, 1998), que aborde os princípios de ética e
interdependência (CAREW; MITCHELL, 2001). Sendo que esse processo de mudança em
busca da sustentabilidade deve ser orientado por um número de valores e
princípios (FIEN; TILBURY, 2002), valores esses que devem ser econômico,
ecológico e sociocultural.
A Agenda 21, protocolada em 1992, foi elaborada
como um plano de ação estratégica para o Desenvolvimento Sustentável Global,
tendo como signatários 174 chefes de governo. De acordo com Orr (2002), um dos
maiores desafios da sustentabilidade é a educação, sendo que no capítulo 36 da
Agenda 21, intitulado:
Promoção do Ensino, da Conscientização e do
Treinamento, ela é considerada fundamental para se alcançar o desenvolvimento
sustentável e melhorar a capacidade das pessoas em conduzir as
questões de meio ambiente e de desenvolvimento.
Na Rio+10, em 2002, que ficou conhecido como o
Encontro Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável reafirmou - se o compromisso
e foi o marco da utilização dos três pilares do desenvolvimento sustentável:
economia, social e meio ambiente. Deste evento surgiu a declaração que
recomendou à Assembléia Geral das Nações Unidas a DESD – Decade of Education
for Sustainable Development ou Década da Educação para o Desenvolvimento
Sustentável, um processo de aprendizagem surgido da necessidade de um suporte
para se promover o Desenvolvimento Sustentável (WSSD, 2002).
Diante disto, a UNESCO assumiu a proposição de um
novo paradigma: a Educação para o Desenvolvimento Sustentável. Criou - se uma
década (2006 - 2015), delineada como um conjunto de parcerias que procura
reunir uma grande diversidade de interesses e preocupações, sendo um
instrumento de mobilização, difusão e informação (VELOSO et al., 2011).
Trata-se de uma rede de responsabilidade pela qual
os governos, organizações internacionais, sociedade civil, setor privado e
comunidades locais aoredor do mundo podem demonstrar seu compromisso prático de
aprender a viver sustentavelmente (UNESCO, 2005). A década, através do Plano estimulará
uma maior reflexão sobre a Educação voltada para o Desenvolvimento Sustentável,
proporcionando ao mundo, maiores subsídios sobre as questões ambientais, vistas
hoje sob a ótica da Educação Ambiental, que propõe a compreensão global,
holística e integrada do mundo, considerando as dimensões éticas, políticas,
econômicas, sociais, culturais, ecológicas e da Ciências e Tecnologias.
Sabe-se que a Educação para o Desenvolvimento
Sustentável - EDS, que inclui a Educação Ambiental, há pouco tempo incorporado
na agenda das reflexões acadêmicas e políticas no Brasil, vem ganhando espaços
nos debates nacionais, prioritariamente, por conta do quadro de deterioração
ambiental em nosso país nos últimos tempos. Isso gerou resultados, práticas de
Desenvolvimento Sustentável e empenho pela qualidade de vida através de
sistemas de códigos que visam a orientar nossa relação com o meio natural. No
âmbito das escolas, a Educação Ambiental é parte das propostas dos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs), como assunto relacionado a todas as disciplinas
do currículo, sugerindo discussões de natureza ética, ecológica, política,
econômica, social e cultural (VELOSO et al., 2011).
O ENSINO
DE SUSTENTABILIDADE EM CURSOS DE ENGENHARIA
A DESD tem como foco integrar as disciplinas da
grade curricular dos cursos de engenharia, transformando o processo de formação
do engenheiro em oportunidade de desenvolvimento de consciência com abordagem
sistêmica. (CALDER, 2005).
No ano de 1990, lideranças universitárias se
reuniram na França e criaram uma iniciativa específica na educação, que ficou
conhecida como Declaração de Talloires, onde foi definido o desenvolvimento
sustentável e ficou estabelecido que este fosse promovido na educação de nível
superior. Mais tarde na Espanha, no ano de 2006, outra reunião deu origem a
Declaração de Barcelona,onde se sugeriu um novo perfil para os engenheiros que
a sociedade precisa. Ainda solicitou que o ensino superior considere uma
formação holística para os engenheiros, incluindo os aspectos sociais e éticos.
Por muitos anos, a engenharia foi considerada como
sendo uma disciplina que formou profissionais meramente tecnologistas, não
preocupados com as implicações decorrentes de sua atuação. Em parte isto foi
necessário para que eles soubessem lidar com a complexidade do desenvolvimento
tecnológico.
A engenharia é uma disciplina voltada para
desenvolver soluções voltadas para problemas práticos que, por definição,
sempre buscou a melhoria da existência humana e desempenha um papel importante
em atender as satisfações e aspirações de hoje e de amanhã (VANEGAS, 2006), por
isso a integração total da sustentabilidade nos currículos dos cursos de
engenharia continua sendo uma das maiores prioridades (GLAVIC, 2006). A incorporação
do conceito de sustentabilidade na engenharia conduzirá à novas soluções,
diferentes das empregadas até então, por considerar somente as questões
técnicas, conforme ponderou Clift e Morris (2002).
Zapf (2000) afirma que o conceito de
sustentabilidade pode ser aplicado às empresas e organizações, sendo que a
dimensão social, segundo Ebner e Baumgartner (2006) é denominada
Responsabilidade Social Empresarial ou Corporativa – RSC. A RSC é um conceito
comumente aceito de que as empresas decidem voluntariamente proteger o meio
ambiente e contribuir para uma sociedade melhor, indo além do simples
atendimento à legislação.
De acordo com Bourn e Sharma (2008), um engenheiro
sustentável e global é a chave para boas práticas em negócios, considerando que
a Engenharia Sustentável é aquela que incorpora o desenvolvimento e a
implementação de sistemas, processos e produtos viáveis tecnologicamente e
economicamente e que promovam o bem estar humano enquanto protege a
saúde humana e promove a proteção do meio ambiente como um critério em soluções
de engenharia (ABRAHAM, 2005).
Contudo para que essa nova perspectiva aconteça,
torna-se necessário a contextualização da formação desse profissional na
sustentabilidade, pois a engenharia não pode ser separada do contexto na qual a
atividade é conduzida (JOHNSTON et al., 1996). Embora desenvolver novas
práticas de ensino, como a de sustentabilidade e RSC, emengenharia sejam tão
complexas quanto à definição de seu conceito, os cursos de engenharia nas
universidades brasileiras já têm apresentado algumas mudanças, mesmo estando os
cursos de engenharia ainda vinculados à estrutura curricular formatada nas
décadas de 50 e 60 (SCHNAID et al., 2001). De acordo com esses autores, os
envolvidos no ensino de engenharia devem apresentar novas soluções nas variadas
e algumas novas áreas de engenharia.
Quanto à realidade e perspectivas dos profissionais
da Engenharia de Produção, segundo Furlanetto et al (2006), os avanços
tecnológicos têm exigido profissionais com ampla habilitação em técnicas e
princípios, sendo que em suas formações deve ser oferecida uma gama muito
grande de temas componentes, nos mais diferentes currículos desses cursos.
Sustentando a relevância da inclusão do tema
sustentabilidade nos currículos dos cursos de engenharia, a Associação
Brasileira de Engenharia de Produção – A BEPRO (2009) incluiu esse tema como
uma das áreas da engenharia de produção. Além disto, a sua Comissão de
Graduação propôs uma Matriz de Conhecimento ou Matriz de Competências à
Comissão de Engenharia Industrial do CONFEA, com vistas à elaboração final
desse documento que integrará como um anexo à Resolução n° 1010/2005 do CONFEA,
determinando a concessão de habilitação profissional na Engenharia de Produção.
Seguem as áreas de engenharia de produção
apresentadas na referida Matriz: engenharia de operações e processos da
produção, logística, pesquisa operacional, engenharia da qualidade, engenharia
do produto, engenharia organizacional, engenharia econômica, engenharia do
trabalho engenharia da sustentabilidade, educação em engenharia de produção.
Desta forma, a engenharia de produção se mantem atualizada conforme as
necessidades do mercado, e como conseqüência, esta graduação tem posição de
destaque frente às oportunidades de trabalho.
Estabelecendo uma analogia com o caso da formação
do engenheiro, pode-se inferir que o Engenheiro necessita de conhecimentos
científicos, técnicos, de gestão, éticos, legais, culturais para compor com
atitudes ( aspectos comportamentais) e capacidade de decidir utilizando
valores que beneficiem o “bem comum” e o “entorno”( capacidade de enxergar a
sociedade em que toma decisões -, os reflexos de suas atitudes que irão nela
impactar).
Neste sentido, conforme exposto nas Diretrizes
Curriculares Nacionais para os Cursos de Graduação em Engenharia, o egresso
deve possuirr as seguintes competências gerais:
I. Aplicar conhecimentos
matemáticos, científicos, tecnológicos e instrumentais à engenharia;
II. Projetar e conduzir experimentos
e interpretar resultados;
III. Conceber, projetar e analisar
sistemas, produtos e processos;
IV. Planejar, supervisionar,
elaborar e coordenar projetos e serviços de engenharia;
IV. Identificar, formular e resolver
problemas de engenharia;
V. Desenvolver e/ou utilizar novas
ferramentas técnicas;
VI. Supervisionar a operação e a
manutenção de sistemas;
VII. Avaliar criticamente a operação e
a manutenção de sistemas;
IX. Comunicar-se eficientemente
nas formas escrita, oral e gráfica;
X. Atuar em equipes
multidisciplinares;
XI. Compreender e aplicar a ética
e responsabilidade profissionais;
XII. Avaliar o impacto das
atividades da engenharia no contexto social e ambiental;
XIII. Avaliar a viabilidade
econômica de projetos de engenharia;
XIV. Assumir a postura de
permanente busca de atualização profissional;
Chama a atenção o tópico XII, que
ressalta a responsabilidade do engenheiro perante o contexto social e
ambiental. Este requisito contempla em seu escopo a relevância das competências
em desenvolvimento sustentável para o engenheiro e seu exercício profissional.
A SUSTENTABILIDADE NA
FORMAÇÃO PROFISSIONAL DE ENGENHARIA: O CASO DA ESCOLA DE ENGENHARIA DA UFF
A Escola de Engenharia da Universidade Federal
Fluminense – UFF já tem se antecipado no atendimento aos elementos desta Matriz
de Competências. Os professores têm buscado integrar, de forma transversal,
questões de sustentabilidade em suas disciplinas, geralmente utilizando estudos
de casos e exercícios que estimulam os alunos a refletir sobre o tema e
identificar estratégias e técnicas que viabilize a implantação nas empresas.
Dessa forma, tem-se desenvolvido um conteúdo curricular em que os estudantes
aprendem a pensar de forma mais integrada.
É importante ressaltar que essa abordagem
interdisciplinar de ensino e aprendizagem no ensino superior é apoiada pela
Comissão das Nações Unidas sobre Sustentabilidade – UNCSD e pela UNESCO
(CALDER; CLUGSTON, 2003).
A Educação para o Desenvolvimento Sustentável (EDS)
é uma nova visão da educação que busca principalmente equilibrar o bem-estar
humano e econômico com as tradições culturais e o respeito aos recursos
naturais do planeta. A EDS utiliza métodos educacionais transversais com o
objetivo de desenvolver atividades com ética para a educação permanente;
promovendo o respeito às necessidades humanas compatíveis com o uso sustentável
dos recursos naturais e com as necessidades do planeta assim como nutre o senso
de solidariedade global (OLIVEIRA, et al. 2011).
O professor como outros profissionais, juntamente
com todos os segmentos sociais, deve inserir a dimensão ambiental dentro do
contexto local, sempre constituindo modelos através da realidade e pelas suas
próprias experiências e dos outros. A educação, em todos os seus aspectos, pode
atuar visando mudanças no futuro, capacitando indivíduos e sociedades com as
habilidades, perspectivas, conhecimento e valores para se viver e trabalhar de
maneira sustentável (OLIVEIRA, et al. 2011).
Neste pensamento, o curso de Engenharia de
Produçãotem focado em uma abordagem sistêmica, como nas disciplinas Controle da
Qualidade e Planejamento e Controle da Produção, o que despertou grande
interesse dos alunos no desenvolvimento de seus projetos finais e como
desdobramento na inserção de profissionais de engenharia no mercado de trabalho
com interesse em atuar nas áreas de meio ambiente, responsabilidade social,
entre outras.
Esse interesse levou ao desenvolvimento da
disciplina de Gestão Estratégica Empresarial, onde temas centrais de
sustentabilidade estão sendo incorporados.
A
DISCIPLINA GESTÃO ESTRATÉGICA EMPRESARIAL
O foco dessa disciplina está em sustentabilidade
nos negócios, responsabilidade social e ambiental, produção mais limpa e
estratégia empresarial direcionada ao equilíbrio entre meio ambiente,
desenvolvimento social e econômico nos critérios de tomada de decisão.
Além de abordar temas como ética e cultura organizacional
por meio de metodologias inovadoras e participativas em atividades em sala de
aula. O seu objetivo não é ensinar Planejamento Estratégico, mas desenvolver o
sentido de pesquisa como o essencial atributo de qualquer profissional
graduado. O futuro profissional aprende não confiar em conhecimentos prontos e
estar em constante movimento de pesquisa, de curiosidade com o
novo, com a instigante e permanente busca de auto-aperfeiçoamento.
Busca-se desenvolver conhecimentos e metodologias
que proporcionem aos alunos de graduação uma visão sobre o realidade do
mercado, formando gestores preparados para agir por mudanças sociais e
ambientais positivas. O conhecimento multidisciplinar permite perceber a
importância na integração entre diversas áreas a fim de idenfificar as melhores
soluções para os problemas empresariais.
A disciplina Gestão Estratégica de Empresas busca alinhar
e atualizar o conhecimento dos alunos de graduação, apresentando princípios
estratégicos de sustentabilidade, bem como dar suporte para aprimorar a
capacidade de formular e implementar as Políticas de Gestão Empresarial para a
excelência, considerando inclusive os aspectos estratégicos, táticos e
operacionais.
Compõe-se de aulas expositivas, visitas técnicas e
atividades em sala de aula provocando a interatividade, o desenvolvimento de
atributos de oratória e preparação de apresentações em powerpoint, direcionadas
para os temas:
a) O que é sustentabilidade e como
incorporá-la ao negócio?
b) Evolução e histórico dos conceitos da sustentabilidade;
c) O que é Responsabilidade Sócioambiental e as
ferramentas utilizadas pelas empresas?
d) Liderança, gestão de pessoas e segurança e saúde
ocupacional;
e) Gestão pela qualidade total, ferramentas de
qualidade, critérios do PNQ;
f) Sistemas de gestão com base nas normas ISO 9000 (qualidade),
14000 (meio ambiente), 18000 (saúde e segurança ocupacional), e 26000
(responsabilidade social);
g) Gestão ambiental empresarial e indicadores de
desempenho sócioambientais, como o GRI, Indicadores Ethos e outros exemplos.
h) Estudo de viabilidade econômica, utilizando como
base oportunidades que buscam reduzir o impacto ambiental.
i) Produção mais Limpa: neste aspecto os alunos são
levados tanto a compreender os princípios das metodologias tradicionais de implantação
da produção mais limpa, como também aplicam tais conceitos em estudo de caso.
Complementa-se o estudo de caso realizando estudo
de viabilidade econômica das melhorias incluídas na implantação de produção
mais limpa proposta no estudo de caso. Sendo assim, nesta
disciplina têm se trabalhado os temas como o planejamento e controle do
produto, logística da cadeia de suprimentos e sistemas de gestão dos recursos
naturais, com enfoque em conteúdos específicos, como Analise de Ciclo de Vida
de Produtos, Logística Reversa, Produção mais Limpa e Ecoeficiência, Sistemas
de Gestão Ambiental e Certificação, e Responsabilidade Social.
Para apoiar o desenvolvimento das atividades na
sala de aula, foi desenvolvida uma apostila específica sobre a Metodologia Produção
mais Limpa, que busca reduzir os impactos ambientais e o custo do processo
produtivo. Esta apostila é disponibilizada para todos os alunos, a fim de
didaticamente demonstrar como é possível identificar ações com foco ambiental,
tanto nas micro quanto nas grande empresas.
Para tornar mais atraente a disciplina, a partir de
2004, o docente junto com o monitor produziu conteúdo composto de artigos,
textos e apresentações sobre os temas ministrados e distribuído na forma
digital em CD-ROM e por intermédio de um site específico da disciplina, onde é
possível além da disponibilização do material apresentado em sala de aula, uma
efetiva comunicação com os alunos, desde a divulgação de eventos relacionados a
avisos a respeito das aulas.
O conteúdo deste CD-ROM é atualizado
semestralmente, e hoje conta com aproximadamente 1500 artigos, organizados em
áreas do conhecimento para facilitar a pesquisa dos alunos. Nos últimos cinco
anos a disciplina vem contando semestralmente com 60 a 70 graduandos
matriculados, atendendo além dos graduandos em engenharia, quanto à demanda de
alunos de outros cursos.
Em cada turma, organiza-se visitas técnicas em
empresas certificadas, a fim de demonstrar na prática como funcionam os Sistema
de Gestão implantados na área de meio ambiente, qualidade, responsabilidade
social e seguranca do trabalho, bem como a utilização de técnicas e ferramentas
da qualidade nos procedimentos operacionais.
Para complementar o didática do ensino amplicada na
disciplina Gestão Estratégica de Empresas, o docente frequentemente divulga
oportunidades de eventos acadêmicos nas áreas afins, bem como, quando possível,
viabiliza a gratuidade na inscrição dos alunos, de forma que estimule a
participação em ambiente acadêmico o que proporciona o contato dos alunos com
especialistas no assunto, ampliação da rede de relacionamento e o conhecimento
de novos casos de sucesso executados pelas empresas.
Pretende-se que ao final do curso
o aluno tenha a habilidade de identificar os fatores ambientais, de segurança e
sociais, os fatores internos das organizações, pontos fracos e fortes e o
modelo de gestão mais apropriadoao negócio
PERSPECTIVA
PEDAGÓGICA NO ENSINO DA DISCIPLINA
Ao longo dos cinco anos a disciplina tem se mantido
com demanda espontânea, sendo optativa para alguns cursos e eletiva para
outros, o que demonstra o grande interesse dos alunos por tal tema.
Os alunos têm demonstrado genuíno interesse pelo
meio ambiente, pelas questões éticas na condução das empresas, na humanização
dos ambientes e postos de trabalho e no desenvolvimento de uma nova abordagem
na condução dos sistemas produtivos.
Em uma visão mais ampla, acredita-se que os alunos
serão capazes de entender e conhecer:
¾ As questões contemporâneas e sua
responsabilidade como um futuro profissional e cidadão;
¾ A capacidade de carga de
ecossistemas, como limitante em prover serviços;
¾ O impacto das atividades humanas
no planeta;
¾ A responsabilidade ética que impactam
a qualidade de vida das gerações presentes e futuras;
¾ Novas oportunidades de negócios,
a partir de marcos legais e a demanda dos consumidores por produtos e serviços
socialmente responsáveis e ambientalmente equilibrados. De forma mais tangível,
espera-se que os alunos tenham habilidades para:
¾ Estabelecer as conexões do
triple bottom line – TBL (ambiental, econômico e social) e outras dimensões do
Desenvolvimento Sustentável que influenciam na disciplina (cultura, ética,
segurança do trabalho, etc.);
¾ Aplicar os princípios ou
ferramentas disponíveis relacionadas à sustentabilidade;
¾ Desenhar processos, produtos e
componentes considerando a análise de ciclo de vida, utilizando como
restrições, as dimensões do Desenvolvimento Sustentável;
¾ Aplicar os princípios da sustentabilidade
em sua vida profissional e pessoal.
PROPOSTA
DE METODOLOGIA DE ENSINO
Os tópicos acima apresentam a abordagem incorporada
na Disciplina Gestão Estratégica
Empresarial, entretanto novas perspectivas devem complementar a dinâmica em
sala de aula, a saber:
· Desenvolver metodologias, que
abordam a produção mais limpa e a responsabilidade
socioambiental indicando uma ênfase na ecoeficiência no sistema produtivo, nos
princípios estratégicos de gestão participativa;
· Atualizar constantemente o
conteúdo da disciplina Gestão Estratégica Empresarial e a continuada busca de
inovação nas dinâmicas de ensino para motivar os alunos e despertar as
intenções de pesquisa;
· Desenvolver experimentos mais
sofisticados para utilização em sala de aula, de forma que os alunos
transformem os conceitos teóricos em aplicação prática;
· Elaborar documentados e publicar
artigos sobre a implantação de produção mais limpa;
· Criar banco de boas práticas
para implantação de ações que buscam a sustentabilidade do negócio;
· Orientar alunos para que
desenvolvam trabalhos de conclusão curso abrangendo os princípios norteadores
da disciplina;
A figura acima, descreve a proposta de diretrizes a
ser em incorporadas no ensino de sustentabilidade nos cursos de engenharia. Atividades extraclasse, visitas técnicas e
eventos acadêmicos, são oferecidas aos alunos, a fim de motivá-los para o
estudo e a aplicação dos temas abordados em sala de aula.
No planejamento da disciplina, que tem foco em
sustenbilidade nos negócios, são selecionados temas que estão em evidência no
mercado de trabalho. Os palestrantes especialistas são convidados a expor esses
temas com enfoque teorico enriquecido pela vivência no assunto apresentando
técnicas e metodologias relacionadas.
Para a compreensão e fixação dos temas expostos,
são trabalhados estudos de casos em sala de aula, por meio de dinâmicas em
grupo, o que favorece o relacionamento interpessoal entre os alunos.
Como critério de avaliação, os alunos devem
apresentar um seminário aplicando os conhecimentos adquiridos num caso real.
Para apoiar o desenvolvimento das atividades em sala de aula, é disponibilizado
o material das palestras através de site específico da disciplina e material
complementar por um CD, organizado por tema, que atualmente é composto por
aproximadamente 1000 arquivos: artigos publicados em periódicos, eventos,
teses, dissertações, apresentações, procedimentos, etc.
Como resultado, espera-se um interesse maior dos
alunos pelo tema a partir da elaboração de Trabalhos de Conclusão de Curso,
artigos, e como consequencia a criação de um banco de boas práticasrelacionadas
a implantação da sustentabilidade nas empresas.
RESULTADOS
ALCANÇADOS
Os resultados tem sido evidenciado no incremento de
número de projetos finais de graduação nas temáticas relativas à
sustentabilidade,o aumento da procura pela disciplina por alunos de outros
curso, além de despertar o interesse na realização de cursos de pós-graduação
dedicada à temática inserida na disciplina Gestão Estratégica Empresarial.
Em 2010, outros cursos de curso de graduação da
Universidade Federal Fluminense demonstraram interesse na dinâmica da disciplina,
a fim de incorporá-la na sua grade curricular. Os temas abordados incluem desde
o desenvolvimento de ferramentas para gestão, como os indicadores, modelos de
implantação da responsabilidade socioambiental empresarial, até o
desenvolvimento de modelos de gestão para organizações não governamentais e de
intervenções sociais através de projetos de responsabilidade social.
Em um dos seminários de final da disciplina foram
apresentados estudos de caso em Sistemas de Gestão, com os títulos:
Estes seminários estimulam os alunos a conhecer e compreender a importância da implantação
dos modelos de gestão apresentados durante as aulas da disciplina. Nos
trabalhos são apresentados os modelos de gestão, técnicas e ferramentas da
qualidade utilizadas pelas empresas para mantê-las competitiva no mercado, bem
como o motivo que os levaram a incorporá-las ao seu negócio e os benefícos econômicos,
sociais e ambientas.
CONCLUSÃO
As diretrizes metodologia proposta visa fornecer
aos estudantes de engenharia, aspectos teóricos e sugestões para aplicação em
um processo de aprendizagem sobre sustentabilidade. Como a educação para o
desenvolvimento sustentável requer que se conduzam igualmente os três pilares:
meio ambiente, sociedade e economia, o seu ensino em cursos de engenharia, torna-se
fundamental, pois coloca a dimensão socioambiental em discussão, já no processo
inicial de formação desse profissional.
Para que novas soluções no ensino de engenharia,
como disciplinas ou cursos de responsabilidade social corporativa e
sustentabilidade não tenham uma mera função decorativa na grade curricular,
tornam-se necessário que se defina com maior clareza a metodologia e conteúdo
dos cursos propostos.
A Engenharia da Sustentabilidade, como um novo
paradigma que se insere no contexto da Década da Educação para o
Desenvolvimento sustentável, apresenta-se a partir de uma perspectiva
sistêmica, holística, de integração e interdisciplinaridade, além de
desafiante, capaz de formar profissionais que promoverão o bem-estar dos
diversos públicos impactados pela sua atuação. Sendo que esses profissionais
entenderão a suas responsabilidades e implicações dos impactos das atividades
desempenhadas.
Considerando os resultados da pesquisa, pode-se
definir que a finalidade do ensino da sustentabilidade na graduação em
engenharia é o de promover o bem-estar dos diversos públicos impactados pela
atuação do Engenheiro.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA,
Fernando. O bom
negócio da sustentabilidade. Rio de Janeiro; Nova Fronteira; 2002
ABRAHAM, M. Sustainable Engineering
for Engineers. Environmental
Progress, v. 24, n. 1, p. 10 - 11, 2005.
ABEPRO,
Associação Brasileira de Engenharia de Produção. Referências de Conteúdos da
Engenharia de Produção. Documento Elaborado pela Comissão de Graduação e
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