quinta-feira, 7 de março de 2013

ARQUITETURA E SUSTENTABILIDADE - PARTE 1



Blog “Gestão e Negócios Sustentáveis”, de autoria de Superdotado Álaze Gabriel.


A ARQUITETURA SUSTENTÁVEL

Sabendo-se dos efeitos irreversíveis ocorridos pela ação humana, dos quais a natureza compartilha, a preocupação sobre a capacidade de resistência do meio ambiente às agressões e também a capacidade de reposição de seus recursos; é iminente. A construção civil, depois da agricultura, é a indústria mais poluidora, prejudicial e intervencionista na natureza; seja pelos mecanismos artificiais de acondicionamento térmico, pelo excessivo consumo de energia e emissão de poluentes na extração e produção de materiais básicos para construção, ou pela vazão dos subprodutos provenientes de áreas industriais e agrícolas; além da queima de resíduos. Em face disso, o termo “arquitetura sustentável” se refere a um conjunto de práticas e tecnologias construtivas que não afetem o meio ambiente e esteja em consonância com os apelos da comunidade internacional; baseado em distintas teorias como as filosóficas (das Energias Telúricas e a de Gaia) e da engenharia civil, além de idéias anteriores, como a exposta em 1987 no Informe Brundtland, que propunha o uso racional dos recursos naturais com soluções socialmente justas, ecologicamente corretas e viáveis economicamente. Numa relação de causa e efeito – como em uma cadeia – ela requer providências básicas para o não comprometimento do meio ambiente, e deve ser considerada em todas as etapas de uma obra, desde o projeto até o uso e manutenção. Ex.: levar em conta o local da construção e prever os materiais adequados, reflorestar taludes e barrancos para evitar deslizamentos de terras, conhecimento prévio das propriedades físico-químicas dos materiais, máximo uso dos sistemas naturais de iluminação e ventilação etc.
Vários são os obstáculos no caminho dessa arquitetura; como o uso indiscriminado dos materiais convencionais, erros de projeto (excesso de reentrâncias, falta de arejamento e outros) que causam quase 40% das doenças relacionadas à construção, falta de incentivos fiscais e governamentais para a pesquisa e execução, além da falta de interesse da sociedade para com este tema. Porém, o maior deles, é a falta de informação dos profissionais da área; ou seja, a formação acadêmica insuficiente, a falta de consciência ecológica e humanista, e principalmente o desinteresse por uma arquitetura mais natural, humana e não exibicionista.
Os objetivos da arquitetura sustentável; para uma maior integração do homem com a natureza, a resolução de problemas urbano-rurais sobretudos em áreas críticas e p/ a preservação do Meio, são:

·       Uso mais amplo de materiais renováveis que contribuam para uma maior eficiência energética;
·       Preocupação maior na busca por soluções que permitam uma vida útil maior das edificações, de modo que seus custos e benefícios alcancem as gerações subseqüentes;
·       As obras devem ser suficientemente flexíveis para a incorporação de avanços da indústria de acabamentos e instalações, sem que provoque transtornos ou reformas que geram entulhos;
·       Procura por soluções que melhorem o controle da temperatura e a ventilação, por meios naturais;
·       Intensificação da auto-suficiência energética e do reuso d’água, aproveitamento da energia solar, sistemas de drenagem que coletem, tratem e reutilizem os efluentes; previstas já no projeto da obra;
·       menor solicitação de manutenção, sem maiores intervenções no acompanhamento do desempenho ou substituição de materiais de acabamento, sobretudo em áreas de manutenção acessíveis ao público;
·       busca por sistemas construtivos que adotem a pré-fabricação, com maior controle ambiental, racionalidade da produção;
·       maior conforto e menor custo das edificações; já que a redução em 20 % dos custos, segundo estudos, proporciona em 2 vezes o acesso a elas, pelas pessoas.

1. Sustentabilidade Econômica – Com base em seu conceito, aplica-se na arquitetura visando à administração dos recursos naturais, uma melhor aplicação dos recursos financeiros e também a uma eqüidade na distribuição e uso destes para a satisfação de todos. Por meio do uso racional de energia e mecanismos de aproveitamento, do combate ao desperdício de materiais de construção, da reciclagem dos resíduos gerados, das corretas técnicas de projeto arquitetônico, políticas de treinamento e prevenção de acidentes de trabalho, da melhoria das construções existentes, da economia d’água e sistemas de reutilização da mesma, e de um conjunto de medidas para a resolução da questão habitacional, é possível alcançar a sustentabilidade econômica na arquitetura e na construção civil.

2.  Sustentabilidade Ambiental – De acordo com sua definição, é aplicada na arquitetura com o intuito de preservar a biodiversidade, garantir a qualidade do ar, da água e do solo em níveis adequados à vida humana, animal e vegetal; além de estabelecer melhores relações entre os seres vivos. O alcance dessa sustentabilidade é possível, por meio de experiências construtivas (sejam de que tipo e tamanho for) que levem em conta a qualidade de vida na cidade e no campo e que respeitem o meio ambiente, como por exemplo, bairros arborizados c/ áreas verdes e que permitam boa circulação de ar e dispersão dos poluentes; da aplicação de elementos construtivos que em sua fabricação não agridam a natureza; do uso de materiais possíveis de ser reciclados ao invés de simplesmente dispensados; do uso racional da água e energia, além de ações que visem a redução do impacto ambiental das grandes cidades.

2.1 Arquitetura Verde – Com a nova consciência da sociedade, decorrente da necessidade de redução dos impactos ambientais provocados pela construção civil e a melhora da qualidade de vida; surge o conceito de “arquitetura verde”; que se refere a uma arquitetura mais ecológica e correta. Está fundamentada na necessidade, de integração do projeto com o seu entorno; de utilização de técnicas e materiais locais; de diminuição dos custos de construção, uso e manutenção da edificação, bem como do consumo de energia; de alcançar a eficiência energética na arquitetura por maneiras alternativas de produção; ou seja, envolve alterações importantes no modo de projetar, construir e utilizar os edifícios, além de poder ser aplicada a qualquer tipo de edificações. Através do projeto, sugere medidas básicas como; o estudo de posicionamento da obra em relação à insolação, aos ventos, ao desenho da planta e ao clima; e também a análise criteriosa da forma, altura, tipos de esquadrias e fechamentos, arejamento, materiais empregados, revestimentos, cores e outras, contidas no projeto. Propõe ainda, a incorporação de novos elementos e técnicas ao projeto; como painéis que trocam calor, energia geotermal, ventilação eólica, exaustores e insufladores de ar, sótãos isolantes e forros deslizantes, que permite um condicionamento ambiental por meios passivos (que não usam energia artificial para funcionar).

2.2 Arquitetura High-tech/ Eco tech – Resultante de uma associação firmada em 1993 por arquitetos internacionalmente reconhecidos – como Norman Foster, Renzo Piano, Richard Roger, Thomas Herzong e outros - na conferência internacional de Florência sobre energia solar na arquitetura e no urbanismo; recorre à tecnologia e à informática para a produção de projetos com enfoque ecológico, e se apresenta principalmente em grandes edificações de aço e vidro e em edifícios de escritórios. 


3.  Sustentabilidade Social – Conforme sua denominação, faz-se presente na arquitetura, objetivando o equilíbrio das cidades (que aliem à área residencial, proximidade a locais de trabalho, presença de equipamentos e serviços urbanos, além de atividades comerciais e áreas de lazer); também, e principalmente, aquilo que é essência nas cidades: a interação entre as pessoas e suas atividades, as relações entre elas, seus costumes, credos, artes e diferenças; de modo que não se crie áreas de segregação e aprimore a tolerância entre estas. Para o alcance desta, medidas como valorização dos recursos humanos com políticas que enfrentem questões de gênero, raça e poder aquisitivo na distribuição espacial das cidades e do meio rural; implementação de conjuntos habitacionais que não caracterizem “guetos”, estando corretamente inseridos no espaço urbano e que contribuam para redução do déficit habitacional; reestruturação da infra-estrutura urbana, reaproveitando áreas ou edifícios em processo de reciclagem ou reocupação; e também ações que facilitem o acesso ao lazer, educação, saúde e outras necessidades de que dispões as pessoas.

Em virtude da atual situação do meio ambiente, os benefícios, apesar de bem vindos, são limitados e podem vir a garantir apenas a sobrevivência humana. Porém, é fundamental que se atente para o desenvolvimento das questões pertinentes à sustentabilidade, de modo a contribuir e beneficiar a sociedade como um todo. Em relação à reciclagem na construção civil, destaca-se:

·       Redução de recursos não renováveis, substituídos pelos recursos reciclados.
·       Redução de aterros e conseqüentemente a significativa diminuição do volume de resíduos; já que 50% do total do volume são provenientes do descarte de resíduos de construção e demolição.
·       Redução do consumo de energia durante o processo de produção; a exemplo das indústrias de cimento que utilizam resíduos de bom teor energético ou a escória de alto forno.
·       Redução da poluição; a exemplo das indústrias de cimento que contribuem para a diminuição da emissão de gás carbônico (devido à utilização da escória em substituição ao cimento portland).
·       Auxílio na produção de materiais mais baratos, e consequentemente redução do custo da habitação e da infra-estrutura.

Em relação à questão energética na arquitetura, convém citar:

·       Melhor aproveitamento das energias renováveis como as provenientes do sol e dos ventos
·       Uso de dispositivos para conservação de energia
·       Racionalização do uso de energia fornecida ou gerada, ou seja, menor gasto energético seja ele natural ou artificial.

Em relação aos gastos elétricos:

·       Proporciona menores gastos de energia elétrica, devido a possibilidade de uso de energias alternativas;
·       Diminuição dos custos de concessão do fornecimento pelo usuário;
·       Redução da demanda de novas usinas hidrelétricas ou termelétricas.

Em relação ao aproveitamento de recursos naturais:

·       Proporciona o uso dos recursos como vento, marés e sol, energias totalmente limpas.
·       Faz uso de óleos vegetais e carvão vegetal, em substituição ao mineral e madeiras.

Outros ainda podem ser citados, tais como:  

·       Sociais: inclusão social, acessibilidade física, bem-estar e salubridade; podendo aumentar o acesso à água potável proveniente de poços, reduzir o tempo gasto por mulheres e crianças nas atividades básicas de sobrevivência (busca por madeira, água, cozinha etc.). Além do fato de que facilita o acesso à educação, uso de mídia e comunicação nas escolas e aumento da segurança.
·       Econômicos: redução do investimento para construção, diminuição do custo de manutenção e uso da edificação, possibilidades de reuso ou readequação da edificação e componentes para novas funções; como também a criação de novos empregos em regiões rurais (oferecendo oportunidades para fabricação local de tecnologia de energia)
·       Ambientais: redução do impacto ambiental, preservação e conservação dos recursos naturais; bem como a redução das emissões atmosféricas de poluentes como os óxidos de enxofre, e também ajudam a solucionar a problemática do efeito estufa.
·       Aumento da diversidade de oferta de energia
·       Garantia de sustentabilidade da geração de energia em longo prazo, e também de fornecimento – em que difere do setor dependente de combustíveis fósseis, pois não requer importação.

"O credo básico da sustentabilidade deve considerar o entorno, fazer estudos de impacto ambiental e diminuição dos impactos da obra; verificar a adequação a planos urbanísticos e eventuais projetos futuros ; analisar a infra-estrutura existente (água, energia, transportes, coleta de lixo) com a manutenção de áreas permeáveis; considerar a integração física e social com a comunidade e seu conforto, e por fim estudar os impactos na topografia e áreas de nascentes e a possibilidade de restauro de áreas degradas, alem de respeitar a vegetação existente.A edificação em si deve ser projetada conforme as condicionantes da latitude e topografia, visando a uma arquitetura bioclimática que controle iluminação, ruídos, ventilação,isolação térmica, minimizando o uso de ar condicionado e evitando a emissão de CFC ( clorofluorocarnonetos). O uso de tecnologia local deve ser estimulado, considerando-se o lençol freático, a captação de águas pluviais, o tratamento de efluentes e armazenamento de resíduos para que automação vise à eficiência de equipamentos e utilize energia limpa e renovável, equipamentos elétricos de alta eficiência e espaços internos flexíveis que permitam reciclagem e manutenção fácil, oferecendo incentivo ao transporte coletivo e alternativo e à utilização de equipamentos de usos públicos." - Ladislao Szabo, Publicação Iniciativa Solvin 05.
  
 MANDAMENTOS DA SUSTENTABILIDADE

1.    Não desperdiçar energia e recursos;
2.    Produzir pouco lixo;
3.    Limitar a poluição de forma que possa ser absorvida pelos sistemas naturais;
4.    Valorizar e proteger a natureza;
5.    Atender às necessidades locais localmente, sempre que possível;
6.    Prover casa, comida e água limpa para todos;
7.    Dar oportunidades para que todos tenham um trabalho do qual gostem. Valoriza o trabalho doméstico;
8.    Proteger a saúde de seus habitantes, enfatizando a higiene e a prevenção de doenças;
9.    Prover meios de transporte acessíveis;
10.     Investir em segurança, para que as pessoas vivam sem medo de crimes ou perseguições;
11.     Permitir acesso igualitário às oportunidades;
12.     Garantir acesso ao processo de decisão;
13.     Dar oportunidades de cultura, lazer e recreação.


EXEMPLOS DE ARQUITETURAS SUSTENTÁVEIS AO REDOR DO MUNDO

1- Gran Parc Vila Nova (Brasil)

No Brasil, em 2008 estará concluído o primeiro edifício sustentável do país. Localizado em São Paulo no bairro Vila Nova Conceição – que promete ser a semente da construção sustentável no Brasil – o Gran Parc Vila ganhou o Prêmio Holcim de Construção Sustentável e é fruto de uma parceria entre os empreendedores, projetistas e especialistas em desenvolvimento sustentável. É caracterizado pela modernidade, avanços tecnológicos e preocupação com o meio ambiente, sem encarecer a obra.


Entre as várias inovações trazidas pelo empreendimento, usará o próprio lençol freático do terreno para conseguir água para usos menos nobres como as descargas de bacias sanitárias, lavagem de piso e veículos, irrigação e no sistema de incêndios. A água que abastecerá o empreendimento também terá seu aquecimento obtido inteiramente pelo uso de energia solar e bombas de calor, visando evitar desperdícios por queda de temperatura. Toda a iluminação das áreas comuns do prédio empregará lâmpadas fluorescentes de alto desempenho e reatores eletrônicos acionados por sensores de presença e foto-células, com programação horária. Os ambientes dos apartamentos foram planejados para receber ventilação e iluminação natural. A posição das varandas concebida pelo projeto arquitetônico criará anteparos acústicos e térmicos, reduzindo a incidência de raios solares. O uso de vidros laminados melhoram o conforto dos moradores pelo melhor controle do calor e do som externo.
O projeto do edifício Gran Parc também mostra preocupação com o uso de materiais ambientalmente sustentáveis. Começa pelo processo construtivo, onde utilizando cimento do tipo CP III, cuja composição reduz drasticamente a emissão de CO2 durante sua fabricação. O revestimento empregará materiais metálicos reutilizáveis, escolhidos como substitutos da madeira.

2- Edifício Malecon (Argentina)

Localizado na cidade de Puerto Madero, o prédio foi projetado para impedir a entrada excessiva de calor em seu interior e assim otimizar o uso do ar condicionado e reduzir custos com energia. Sua estrutura longa e estreita diminui a área de absorção de calor. As janelas canalizam a brisa do rio Puerto Madeiro, próximo ao edifício.A forma do edifício, com as duas faces opostas em curva, foi desenhada para aproveitar as excelentes vistas que o local oferece e, também, para melhor captar a luz solar em todos os seus ambientes.


O núcleo de elevadores e escadas foi implantado junto à fachada sul, o que permitiu maior flexibilidade no planejamento das plantas dos escritórios, favorecendo a circulação vertical. Esse núcleo é formado por uma torre de tijolos de vidro que abriga as escadas e outra de concreto, revestida de metal, para os elevadores. Suas paredes-fachadas receberam vidros duplos hermeticamente fechados, para proteção solar, e perfis de alumínio anodizado natural.


3- Condé Nast Building (Estados Unidos)

Trata-se de um arranha-céu edificado na cidade de Nova Iorque. Atualmente é o 97º arranha-céu mais alto do mundo, com 247 metros. O edifício reune quase todo tipo de energia alternativa. Tem painéis fotovoltaicos para captar luz solar, aquecedores a gás natural e também produz eletricidade na cobertura a partir de duas células combustíveis (movidas a hidrogênio). A energia elétrica usada à noite é toda produzida no próprio edifício. No fim do mês, a economia média chega a 40%.


4- Swiss Re Tower (Inglaterra)

Localizado na cidade de Londres, a Swiss Re Tower, do arquiteto Norman Foster, encabeça um movimento em torno da "Arquitetura Verde”. Com cerca de 180 metros de altura, divididos em 40 andares, utiliza 50% menos energia que outros edifícios, se comparado a outros também comerciais.
Possui sensores de tempo, temperatura exterior, velocidade do vento e nível de luz do sol que permitem a abertura de painéis e janelas automaticamente, conforme a necessidade interna.
Entre os objetivos principais da obra pode-se citar o uso do design e da tecnologia para reduzir custo e o impacto ambiental, além de proporcionar locais melhores para se trabalhar.

5- Menara Boustead (Malásia)

Um dos precursores dos ideais da arquitetura sustentável, o Menara Boustead, localizado na cidade de Kuala Lumpur, abriga a sede local da IBM. O clima tropical da região é aproveitado para economizar energia nesse prédio: as janelas e cortinas são especiais e melhoram a entrada de luminosidade nos 30 andares que compõem a construção, se utiliza de marquises para fazer sombra e paredes envidraçadas para impedir que o prédio absorva muito calor do sol e pátios internos ajudam na ventilação.


6- The Green Building (África do Sul)

Construído em 2003 na Cidade do Cabo, com blocos de concreto reciclado e madeira de áreas de reflorestamento, dispensa o uso de ar condicionado. O resfriamento do interior da construção é feito, se necessário, por meio de dutos que captam o ar gelado da noite. Painéis solares transformam a luz do dia em eletricidade e calor para cozinhas e banheiros.





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