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“Gestão e Negócios Sustentáveis”, de autoria de Superdotado Álaze Gabriel.
Disponível
em http://www.gestaoenegociossustentaveis.blogspot.com.br/
Autoria:
1 - Fábio
Murilo Costa Machado. Curso de Graduação em Engenharia Mecânica. Universidade
Federal de Santa Catarina;
2 - Davi
Mendonça do Vale Pereira. Curso de Graduação em Engenharia Mecânica. Universidade
Federal de Santa Catarina;
3 -
Walter Antonio Bazzo. Departamento de Engenharia Mecânica – CTC – UFSC. Programa
de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica (PPGECT);
4 - Luiz
Teixeira do Vale Pereira. Departamento de Engenharia Mecânica – CTC – UFSC. Núcleo
de Estudos e Pesquisas em Educação Tecnológica (NEPET).
RESUMO
As faculdades de Engenharia são tradicionalmente
vistas como ilhas de conhecimento
tecnológico, onde discussões sobre política, economia, meio-ambiente e sociedade
raramente ocorrem. Nada mais natural, diriam alguns estudantes e professores da
área, que conhecem a pesada carga de disciplinas técnicas que devem ser ministradas
ao longo de apenas cinco anos. Tanto que a palavra Sustentabilidade, tão em voga
nos dias atuais, raramente é pronunciada em uma sala de Engenharia. Contudo,
não é à toa que essa palavra está na moda. Ela traz à tona uma variedade de
conceitos pertinentes à sociedade contemporânea, como o fornecimento de
alimentos e bens de consumo a uma população em crescimento vertiginoso, sem, no
entanto, esquecer-se do impacto sócio-ambiental resultante dessas atividades.
Ora, não seria a Engenharia parte integrante e determinantedos rumos da sociedade?
Por que então não trazer uma discussão tão importante como a da Sustentabilidade
para dentro das salas de aula de Engenharia?
1 O
CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE
Muitos consideram a Sustentabilidade uma demagogia,
um ideal que não pode ser alcançado na prática. Como pode uma sociedade
consumidora de recursos naturais limitados, tais como ferro, alumínio e
petróleo, ser sustentável? Segundo o documento Nosso Futuro Comum, ou Relatório
Bruntland, publicado em 1987, originado dos estudos da Comissão
Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, Sustentabilidade é a
“capacidade de suprir as necessidades da geração presente sem afetar a
habilidade das gerações futuras de suprir as suas”. Aqui surge uma questão: de
qual futuro estamos falando? Cem anos? Quinhentos anos? Ou quem sabe três mil
anos?
É fato que a maioria dos que se aventuraram a
prever como seria o mundo poucas décadas adiante errou em boa parte das
previsões. Será então que podemos antever as verdadeiras necessidades de nossos
descendentes? Bem, não inteiramente, mas quem sabe em parte nós possamos.
Sabemos que eles precisarão de ar puro para respirar, água potável em abundância,
alimentos variados para sua nutrição, recursos naturais para produzir remédios,
matérias-primas para construir suas casas, meios de transporte, outros
equipamentos variados e energia para fazê-los funcionar.
Por aí já temos algumas noções do que pode ser
feito, caso estejamos realmente preocupados com a igualdade de condições para
as futuras gerações. Eis alguns exemplos. A utilização de madeira de
reflorestamento garante a não devastação de áreas de mata nativa. O controle de
emissões e o tratamento de efluentes reduzem ou anulam a poluição do ar e da água.
A agricultura orgânica, além de produzir alimentos mais saudáveis, permite a manutenção
da fertilidade do solo. As energias renováveis são uma fonte inexaurível de recursos
energéticos, de baixíssimo impacto ambiental. A eficiência na utilização dos
recursos naturais permite que se faça mais com menos.
Vemos assim que, embora seja impossível prever se
esse ou aquele modo de produção será sustentável para todo o sempre, podemos
pelo menos encontrar técnicas e tecnologias que utilizem os recursos do planeta
de maneira menos intensa, aumentado assim a longevidade e a saúde de nossa
sociedade. É aí que as Engenharias entram no terreno da Sustentabilidade.
2 A
SUSTENTABILIDADE NO CONTEXTO DAS ENGENHARIAS
Desde a Revolução Industrial, e especialmente ao
longo do século 20, o desenvolvimento tecnológico, proporcionado pelas diversas
áreas da Engenharia, criou um sem-número de ferramentas fantásticas. Essas
ferramentas facilitaram e deram mais conforto à vida das pessoas, além de
encurtar distâncias: eletrodomésticos, telefone, internet, carros, aviões... A lista
é infindável, assim como os seus benefícios. O aumento do padrão de vida em
diversos países, além do crescimento da oferta e redução de preços, tem permitido
que cada vez mais pessoas tenham acesso à tecnologia em quantidade cada vez
maior. Há, porém, que se olhar para o outro lado da moeda: o consumo de
recursos naturais, na forma de matérias-primas e recursos energéticos, que são
necessários para a fabricação e utilização desses produtos.
Como fornecer, de maneira sustentável, energia e
materiais suficientes para suprir uma demanda que não para de crescer? Nos
últimos dois séculos, a matriz energética mundial, especialmente a dos países industrializados,
tem sido fortemente baseada na queima de combustíveis fósseis. Entretanto, nas
últimas décadas, a utilização dessas fontes energéticas tem dado evidências
cada vez mais contundentes de ser insustentável econômica, ambiental e
socialmente. Guerras, disparada de preços, poluição do ar, efeito estufa e
destruição de ecossistemas são apenas alguns dos problemas
ligados ao uso de combustíveis fósseis que permeiam a discussão. Mas como, afinal,
reduzir o consumo de combustíveis fósseis sem impor barreiras ao
desenvolvimento da humanidade?
A busca constante pela eficiência energética e pela
eficiência no uso de materiais reduz o consumo global de energia, portanto de
combustíveis fósseis, ponto importante no caminho para a sustentabilidade. Isso
já vem recebendo atenção há algum tempo na economia global, devido ao aumento
da competitividade, que impõe a busca incessante pela redução de custos, e à
cultura da ecologia, que permite vender por preços mais altos os produtos com
selo verde.
A produção de energia a partir de fontes renováveis
é outra alternativa intrínseca à ideia de uma sociedade sustentável. O sol, o
vento, os mares e rios, a biomassa, entre outros, são fontes inesgotáveis de
energia e encontram-se espalhados ao redor do globo, e não nas mãos de alguns
poucos países. Contudo, devido à sazonalidade da maioria das fontes renováveis,
faz-se necessário, para a implementação maciça dessas tecnologias de geração,
que se viabilizem formas sustentáveis de armazenamento de energia. A produção
de hidrogênio, para posterior geração de energia elétrica em células
combustíveis, e os reservatórios de acumulação de água, que armazenam energia
hidráulica para uso em momentos de maior demanda, são algumas das alternativas às
baterias elétricas atualmente utilizadas, que são ambiental e economicamente
inviáveis para o uso em maior escala.
Um grande salto para a redução no consumo de
combustíveis fósseis são os biocombustíveis, que já são intensamente usados no
Brasil, aumentando a fatia renovável da matriz energética do país. Devido ao
grau de desenvolvimento dessa tecnologia, já é possível produzir
biocombustíveis a partir de uma enorme gama de produtos agrícolas e até mesmo
de algas, permitindo o desenvolvimento econômico de regiões nos mais variados
climas.
Montadoras européias também já começam a apostar no
carro elétrico, que pode vir a ser uma excelente alternativa aos combustíveis
fósseis. Entretanto, os carros elétricos serão falsas alternativas ecológicas
se a eletricidade for proveniente da queima de combustíveis fósseis. Vemos
novamente a necessidade de aumentar a geração de elétrica renovável. Há,
também, exemplos de como se pode transformar o que antes era lixo em produtos nobres.
A utilização de resíduos da construção civil na composição de tijolos
ecológicos, a produção de bioplásticos a partir de resíduos agrícolas e a
geração de energia elétrica usando o biogás de aterros sanitários, são algumas
das formas encontradas para se transformar um problema ambiental em
desenvolvimento social, através da geração de empregos e do aumento na oferta
de produtos.
É evidente o papel das Engenharias na construção de
uma sociedade cadavez mais sustentável. E se os futuros engenheiros não saírem
da universidade com essa ideia cristalizada em suas mentes, é improvável que
darão a ela a importância devida, e que chegarão um dia a aplicá-la de forma
consistente no exercício de sua profissão.
3 O FOCO
NO ENSINO
Nos últimos tempos, a mídia tem dado grande ênfase
a assuntos ligados à Sustentabilidade, estando a sociedade em geral cada vez
mais ciente da importância dessa discussão. Contudo, na mídia o assunto é
abordado de maneira generalista e pouco aprofundada, de modo que todos possam
compreendê-lo. Entretanto, os engenheiros precisam de uma
orientação mais específica à sua área de atuação, para que possam perceber como
esse conceito faz parte da atividade que exercem. É aí que surge a importância
de se discutir Sustentabilidade nos cursos de Engenharia.
Grande parte dos cursos de Engenharia tem em seu
currículo uma disciplina ligada, de alguma forma, à Sustentabilidade. Será que
a abordagem desse conceito de maneira isolada, em uma única disciplina, pode
surtir um efeito profundo e duradouro no modo de pensar dos futuros
engenheiros? E se esse conceito fosse abordado de maneira integrada com as disciplinas
técnicas, não seria algo muito mais positivo?
Por exemplo:
– no momento em que se estudam ciclos térmicos
aplicados em termoelétricas, seria oportuno discutir possíveis impactos
ambientais provenientes dessa tecnologia e formas de reduzi-los;
– no estudo de processos industriais, pode ser dada
atenção às implicações sociais e ambientais da instalação e operação de uma
fábrica;
– durante o aprendizado de diferentes materiais,
pode-se discutir o impacto causado durante seu processo de obtenção e a
existência de possíveis materiais alternativos.
O estudante de Engenharia deve estar ciente do
impacto que sua profissão pode ter no ambiente a sua volta, para que possa
identificar oportunidades de melhoria, trazendo benefícios para a sociedade e
para si mesmo, alcançando satisfação pessoal e crescimento profissional.
Todavia, para que a Sustentabilidade entre na pauta
das disciplinas de Engenharia, é necessário que ocorra uma conscientização dos
professores de sua real importância. Eles mesmos precisam se dispor a analisar
e refletir sobre o impacto da tecnologia na sociedade contemporânea, a atuação
do futuro profissional na sociedade e a melhor maneira de munir o aluno de
conhecimentos técnicos contextualizados no mercado de trabalho e na sociedade.
É certo que os alunos de Engenharia saem da
faculdade conhecendo uma infinidade de técnicas que utilizarão no exercício de
sua profissão. No entanto, é no mínimo inaceitável a indiferença dos futuros
engenheiros aos possíveis efeitos danosos provenientes da má utilização dessas
técnicas.
Por isso é de suma importância que se formem
engenheiros detentores de um senso crítico quanto ao seu próprio campo de
atuação. Para tanto, a Engenharia deve ser vista como parte de um todo, e não
como tendo um fim em si mesma. Somente uma visão global da engenharia e de seus
impactos pode criar oportunidades para que se construam sistemas que garantam
sustentabilidade.
4
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A Sustentabilidade da atividade humana atual talvez
seja a principal discussão a ser explorada pela sociedade contemporânea. Em um
mundo onde habitam quase sete bilhões de pessoas, além de uma infinidade de
outras espécies de seres vivos cuja perpetuação é constantemente ameaçada pela
pressão humana, é questão de vida ou morte para a sociedade a construção de um
futuro planejado. Se os recursos naturais que permitem a continuidade da vida
humana forem utilizados de maneira irresponsável, chegará o dia em que a fonte
secará, e o planeta deixará de fornecer condições mínimas para o
desenvolvimento humano.
Os Engenheiros, versados nas mais variadas e
fantásticas tecnologias já criadas pelo homem, devem desde cedo ser impelidos a
buscar soluções engenhosas que contribuam para o desenvolvimento humano e a
manutenção do padrão de vida da sociedade. Devem também estar cientes de que
muitas das tecnologias atualmente utilizadas só pioram o balanço final da Sustentabilidade.
Na construção desse futuro, os professores de
Engenharia têm papel de destaque. No dia em que a maior parte deles estiver
ciente da importância do tema, e souber introduzi-lo de maneira natural nas
disciplinas que ministram, é certo que teremos também engenheiros mais responsáveis
e criativos, que constituirão peças-chave na construção da sociedade do futuro.
5
REFERÊNCIAS
BAZZO,
W.A. & PEREIRA, L.T.V. Anota Aí! Universidade: Estudar, aprender, viver... Florianópolis:
Editora da UFSC, 2009.
BAZZO,
W.A. & PEREIRA, L.T.V. CTS na educação em Engenharia. In: Congresso Brasileiro de Ensino de
Engenharia, 2009, Recife. COBENGE. Recife: ABENGE, 2009.
FERRAZ,
A.L.N. & SEGANTINI, A.A.S. Engenharia sustentável: aproveitamento de resíduos
de construção na composição de tijolos de solo-cimento. In: Encontro de Energia
no Meio Rural, 2004, Campinas.
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